domingo, 20 de julho de 2014

Por dentro de uma redação jornalística

Ainda antes de Cristo, os romanos afixavam folhas de notícias, denominadas Acta Diurna, em lugares públicos. Além disso, os chineses e coreanos utilizavam tipos móveis e papeis de impressão centenas de anos antes do surgimento desse tipo de material na Europa.

Com essa informação, Ellis Regina Araújo e Elizete Cristina de Souza iniciam o tema A sociedade e a imprensa de massa, no livro Obras Jornalísticas: uma síntese. Pensar o jornalismo e pensar os profissionais que o fazem nos remete a uma certa mística. Quem nunca quis conhecer a redação de jornais televisivos, como o JN da Rede Globo? Tanto que se observarmos, os novos cenários privilegiam esse “olhar” do público ao espaço interno de trabalho de repórteres, editores, cinegrafistas, fotógrafos e outros. 

É mais fácil definir uma redação jornalística pelo que ela não é. Em primeiro lugar, uma redação não é o local onde acontecem as notícias, mesmo que alguns jornalistas às vezes pensem (e ajam) na construção desse axioma. A notícia acontece nas ruas, nas sedes do poder, nos escritórios bancários, nas competições esportivas e eventos culturais, entre outros. Na redação não deve acontecer nada além do mero trabalho braçal e intelectual (infelizmente, cada dia mais braçal e menos intelectual) de organizar as informações de forma que o público jornalístico seja um construtor de dada realidade.
Neste extrato do texto “Produção da notícia: a redação e o jornalista”, de Roberto Seabra, no livro Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia, demonstra um pouco da complexidade do espaço de trabalho de uma redação. Apesar de todo chamariz que há, segundo o autor, não é ali simplesmente que se decide o que é ou não notícia. “Entre a ocorrência de um fato e sua divulgação na imprensa, existem inúmeros canais intermediários (sociedade, Estado, igrejas, empresas, sindicatos etc.), e outros interesses externos subjetivos (ideológicos, éticos, técnicos etc.) que influenciam na decisão final de se dar ou não uma notícia”.



Enfim, retiradas as especificidades de cada meio (impresso, televisivo, radiofônico ou tecnológico), o que importa é mesmo a divulgação e propagação das informações, muito mais que o espaço ocupado por uma redação, pois nessa atividade participam diversos profissionais. A ilustração ao lado é do Professor Artur Araújo, em sua aula de Introdução ao Jornalismo Impresso, e demonstra um pouco este organograma. 

A revista Mundo Estranho também buscou resposta para a questão: Como funciona a redação de um telejornal? E além de mostrar o dia a dia de uma equipe em busca de notícia, traz a seguinte definição do cenário onde se apresenta o jornal do dia:

 As redações que servem de cenário para os telejornais parecem estúdios. A bancada fica em um palco, mais alta que o resto da redação. Há vários holofotes e três câmeras: uma para cada apresentador e uma geral, que mostra os dois.

Até a próxima!

terça-feira, 15 de julho de 2014

Comunicação Pública

Lendo o texto de Amarildo Baesso e Débora Pinheiro: “Comunicação na administração Pública Federal: Práticas e desafios nas assessorias dos ministérios”, voltou à minha cabeça o debate sobre o que é de fato a comunicação pública, uma vez que o artigo defende que “a comunicação pública deve se apresentar como instância a serviço do governo e não do Estado”, sendo que “a comunicação pública pode ser entendida, grosso modo, como uma atividade que envolve informação, formação de opinião e prestação de contas, tendo sempre um caráter de interesse público”.

Ao reduzir a noticia ao interesse privado do assessorado, o assessor perde a ocasião de promover o debate público e de catapultar nele as pessoas que podem representar publicamente interesses que concernem à res publica, ainda que trate-se de interesses privados. Se a informação é um requisito essencial para o exercício da democracia e para a existência do Estado de direito, não seria exagero julgar que, ao confundir interesses privados e públicos, sem ao menos distingui-los, a comunicação pública fracassa e se torna um desserviço à sociedade.

Em debate sobre a conceituação deste tema, o jornalista Jorge Duarte explica que

A comunicação pública ocorre no espaço formado pelos fluxos de informações e de interação entre agentes públicos e atores sociais (governo, Estado e sociedade civil – inclusive partidos, empresas, terceiro setor e cada cidadão individualmente) em temas de interesse público. Ela trata de compartilhamento, negociações, conflitos e acordos na busca do entendimento de interesses referentes a temas de relevância coletiva. A Comunicação Pública ocupa-se da viabilização do direito social coletivo e individual ao diálogo, à informação e expressão. Assim, fazer comunicação pública é assumir a perspectiva cidadã na comunicação envolvendo temas de interesse coletivo.

Percebe-se que a comunicação pública está, portanto, a serviço de todos. Para Elisabeth Brandão: “A comunicação pública […] se instaura na esfera pública entre o Estado, o governo e a sociedade […]. [Propõe-se] a ser um espaço […] de negociação entre os interesses das diversas instâncias de poder constitutivas da vida pública no país”.  

No artigo de Débora Pinheiro, ainda vemos que segundo Kucinski, “assim como temos um direito difuso a um meio ambiente despoluído, temos um direito difuso a um ambiente de comunicação sadio, pluralista, democrático, de acesso amplo, que estimule a participação e garanta o diálogo”. Por estar inserida em divulgação da política pública, Kucinski defende uma política que é “Policy, significando uma ou várias linhas de ação na execução de política pública, e politics, significando, grosso modo, a maneira como a sociedade distribui o poder”.

Logicamente o debate sobre comunicação pública não se encerra aqui. Mas por enquanto, vamos finalizar respondendo a esta questão aplicada pelo CESPE em 2013 (INPI - Analista de Planejamento - Comunicação Social):

Comunicação pública é um conceito com múltiplos significados, mas uma acepção pertinente para as relações públicas é a de comunicação no âmbito da sociedade civil organizada.

RESPOSTA: Certa

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Atitude para continuar a caminhada

Estou na estrada dos concursos novamente. Em 2009 iniciei meus estudos tendo como objetivo ser jornalista em órgão público. De fato consegui. Agora, quero voos maiores. Estou “focada” em estudar e estudar. Mas sei que este é um trabalho árduo, dedicar parte do tempo de nossa vida a livros, apostilas, aulas... Por outro lado, há ganhos futuros que me incentivam! Além das utilizações no tempo presente, que só de ler clássicos do jornalismo já me dão novo fôlego no trabalho diário em assessoria de comunicação.

 Outro dia ganhei de um amigo da imprensa (o Luis Carlos Pereira, da Rádio Caiari AM) o livro “51 Atitudes para Vencer na Vida e na Carreira“, do autor e palestrante Carlos Hilsdorf. Procurei e encontrei o site do autor, lá está escrito que este é, entre os livros de autoajuda, “2º livro mais vendido da categoria no Brasil, segundo as Revistas Veja e Época, e o jornal Folha de São Paulo. O jornal O Estado de São Paulo também destaca a obra”.

Acompanho o facebook de Carlos Hilsdorf e estou de acordo com suas palavras-chaves: superação, atitude, carreira, metas, objetivos, negócios e motivação. Lógico, não faço isso de maneira descontextualizada de outros fatos e necessidades, porém, busco me motivar cada vez mais, pois numa sociedade competitiva como a atual, a gente precisa também se reafirmar enquanto seres humanos.

Assim como a lembrança que Luis Carlos me entregou, desejo sempre que alcance seus objetivos: “abra um livro e estará abrindo novas portas para novos conhecimentos”. Ainda segundo Hilsdorf:

Quando mantemos a humildade, compreendemos que a vida está repleta de professores. Passamos a aprender com as pessoas, com as emoções, sentimentos e acontecimentos.

Pratiquemos, portanto, atitudes libertadoras.

Boa sorte a todos nós!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Cobertura, independência, ética e outros temas

Ao ler a afirmação de Jorge Duarte de que “no período pós-democratização, metade dos repórteres credenciados no Congresso fossem identificados como funcionários da Câmara e do Senado”. Na verdade, o jornalista fazia uma comparação entre a ética da atuação dos jornalistas em decorrência da dupla jornada (jornalismo era atividade complementar), realizada especialmente nas décadas de 60 e 70, quando não havia piso salarial para os jornalistas, e no caso das assessorias de imprensa era a “ditadura” do noticia somente o que eu quero. Mas a pergunta que fiquei me fazendo o quanto ainda há de ligação entre jornalistas e possíveis “chefias”, emprego ou renda, em possíveis fontes de suas notícias?

É certo que isso envolve questões éticas. Na prática, já sabemos dividir essa forma de envolvimento? Tendo em vista que está entre os impedimentos da profissão, de acordo com o Código de Ética dos Jornalistas:

Realizar cobertura jornalística para o meio de comunicação em que trabalha sobre organizações públicas, privadas ou não-governamentais, da qual seja assessor, empregado, prestador de serviço ou proprietário, nem utilizar o referido veículo para defender os interesses dessas instituições ou de autoridades a elas relacionadas;

Mas o que pensei mesmo em relacionar com esta postagem foi um estudo que encontrei do Centro de Formação da Câmara dos Deputados. Em monografia apresentada em 2010, Fabyanne Nabofarzan Rodrigues tratou de “A importância da assessoria de imprensa para a representação e qualidade da democracia”. No estudo ela defende que

Um relacionamento saudável, cooperativo e permanente é essencial para a boa imagem do político e contribui de sobremaneira para a consolidação democrática brasileira, instigando o cidadão, a partir do conhecimento adquirido nas mídias, a participar de nosso atual sistema de governo.

Por que considerei esse estudo interessante ao analisar a questão da ligação entre fontes e jornalistas? Porque é na política a maior chuva de reclamações que vejo hoje partindo do povo brasileiro. É aqui que a imprensa deve manter mais o foco de sua atenção, porque no parlamento é que se define muito da nossa vida cotidiana. Lugar em que o jornalista deve focar sua atenção para ser o verdadeiro olho da sociedade no trabalho lá desenvolvido. E o trabalho de Fabyanne trata justamente da prestação de contas à sociedade, na chamada accountability, só que por parte das assessorias.

O levantamento mostrou que dos 513 gabinetes, 441 responderam ao questionário feito em 2010. Dos entrevistados, 71 não tinham profissionais atuando especificamente em assessoria de imprensa/comunicação. Enquanto 345 haviam contratado jornalistas e em 25 gabinetes atuavam outros profissionais na comunicação. Da localização das assessorias: 177 mantinham esse profissional somente em seu estado (sua base eleitoral), 63 possuíam assessorias apenas em Brasília e 103 é que abrigavam dois “escritórios”, um em Brasília e outro no Estado de origem.

Aproximando para a Região Norte, uma das que possuem, ao lado do Nordeste, pior tratamento profissional quando a questão é assessoria de imprensa. No Norte do Brasil, foi verificado que 17% dos deputados federais não possuíam nenhuma estrutura que fizesse a ponte mandato-mídia. Comparando com o Centro-Oeste, de fato, a situação é preocupante. Melhor avaliada, lá se tem 81% com atuação de jornalistas, contra 6% que não destinam nenhuma pessoa para esta tarefa. Tanto, que a pesquisadora chega a afirmar que “através da análise destes dados, podemos perceber que a importância que se dá a assessoria de imprensa tende a estar relacionada com o desenvolvimento das regiões brasileiras”. Por outro lado, as assessorias contribuiriam para auxiliar no diálogo com a mídia e chegar ao cidadão-eleitor, “aumentando a accountability e incentivando a participação cidadã. Conceitos imprescindíveis na relação entre o representante e representado, pois a prestação de contas das atividades desenvolvidas no Congresso pode instigar o conhecimento, gerar debate e fazer com que haja maior fiscalização por parte da sociedade”.

Vejamos os números de forma mais próxima aos rondonienses:

Dos sete entrevistados de Rondônia, cinco deputados têm assessoria de imprensa realizado por jornalistas, um possui assessoria mas não era realizado por um profissional formado em jornalismo e um deputado não possuía o serviço de assessoria de imprensa. E dos seis que mantém a assessoria específica em comunicação, três estão estabelecidos apenas em RO, um somente em Brasília e apenas dois mantém a assessoria em Brasília e em Rondônia.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Jornalismo e conteúdo


A permeabilização do jornalismo às fontes profissionais leva a que se possa falar crescentemente de um jornalismo de acesso (das fontes aos jornalistas) em detrimento de um jornalismo de cobertura e investigação.
Ana Viale Murtinho
Jorge Pedro Sousa

A frase acima faz parte do livro Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia (organizado por Jorge Duarte). No texto, ao comparar o trabalho de assessoria de imprensa na Europa e no Brasil, se faz ao final uma reflexão sobre os inegáveis benefícios para fontes, jornalistas/jornais e público quando existe uma relação de honestidade, confiança e veracidade. E o quanto as informações terão melhor tratamento nesse meio.

O atual quadro legal, ético e de costumes da assessoria de imprensa e do jornalismo na União Europeia permite manter esperança na independência dos jornalistas e do sistema jornalístico, assegurando ao mesmo tempo a qualidade da informação que circula no espaço público.

O tema me interessou para o debate sobre como as Assessorias de Imprensa podem colaborar com as redações, mas jamais retirar delas o trabalho de edição, apuração e todos os demais que fazem parte do jornalismo. Conforme afirma Alberto Dines no livro O Papel do Jornal: Uma Releitura – em que ele compara a crise no papel-jornal com a crise de conteúdo, em não se desperdiçar espaço editorial com reportagens sem interesse social e melhor apuração:

“O papel do jornal(ismo) é a busca de circunstâncias”. Sejam estes circunstâncias as clássicas, as sugeridas por Rudyard Kipling – fatores de identificação imediata – sejam elas as mais elaboradas como referências, comparações, remissões, inferências e motivações. Sem investigar e expor circunstâncias, não se exercita o jornalismo.

E é o próprio Dines quem questiona o que colocar sobre as laudas.

Papel, papéis: o problema não é onde colocar a informação, dada a carência de matéria-prima para imprimir, mas o que colocar na folha em branco, desafiando a censura e autocensura.
(...)
O único compromisso de jornais e jornalistas é com a informação. Seu empenho nesta tarefa faz, de um jornal qualquer, um jornal livre, logo um grande jornal. Uma nação de grandes jornais é uma grande nação. Sem este valor intrínseco, sem este quilate que advém de um entendimento superior de suas funções, um jornal, por melhor que seja organizado e constituído, será apenas um catálogo de notícias.

Debater o que se publica nos jornais faz parte da minha vida, como cidadão e jornalista. Não é porque sou de assessoria atualmente, que vou defender apenas o uso integral dos textos. Mais que isso, as sugestões das assessorias são para que surjam outras pautas, outros textos. Aí sim meu trabalho terá tido maior significado, a partir dessa “releitura”.

Nos anexos do livro de Dines há uma série de conselhos. Como o tema de hoje foi conteúdo, podemos refletir juntos sobre alguns desses pensamentos da publicação:

- Há situações verossímeis que não são verdadeiras. E vice-versa. A tarefa do jornalista é fazer coincidir ou dissociar os dois termos.
- Se todos estão olhando para o céu, dê uma olhadinha para o chão. Certamente, você encontrará assuntos que os competidores estão descurando.
- Todos os jornais e todos os jornalistas têm acesso às mesmas fontes e aos mesmos fatos. A única coisa que distingue um jornal do outro é a criatividade.
- Comunicação é criatividade. Alguém diz alguma coisa quando tem algo novo a dizer.

domingo, 6 de julho de 2014

Queijos, vermes e imprensa

Terminei hoje a leitura do livro de Carlo Ginzburg, O Queijo e os Vermes (2006, 6ª reimpressão), conforme recomendado pelo professor Artur Moret (Universidade Federal de Rondônia). No final, tive a impressão de ter voltado aos bancos universitários e estar vendo o filme O Nome da Rosa, baseado no romance de Umberto Eco. Na história, os crimes investigados pelo frade franciscano William de Baskerville, com ajuda do noviço Adso de Melk, mostram o que se igreja da época para impedir a livre distribuição de conhecimentos, no caso as obras apócrifas, os livros “proibidos”.  



Isso, de alguma maneira, se liga ao poder da imprensa em difundir o conhecimento, conforme podemos observar na fala do estudioso David Gitlitz, que é especialista em História Medieval,  no documentário (acima) que faz um resumo sobre a época e sobre o livro de Ginzburg:

Era mais fácil para a igreja manter o controle da teologia quando os livros custavam caro demais e os únicos que podiam compra-los eram igrejas e monastérios. Assim que a imprensa tornou o livro de bolso disponível a qualquer um que juntasse algumas moedas, ficou muito mais difícil manter o “Cabresto”.

E se é necessário continuar a refletira, a recordar para não repetir erros passados, vale lembrar que na mesma época que o Menocchio (Domenico Scandella), o moleiro perseguido pela inquisição, também era condenado o teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano Giordano Bruno (morto na fogueira pela Inquisição romana em 17 de fevereiro de 1600). E, tempos depois, o físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei (queimado vivo em 8 de janeiro de 16422 ), especialmente por defender que era a terra quem girava em torno do sol.

No prefácio à edição inglesa, Carlo Ginzburg traz como análise de número 9:

Dois grandes eventos históricos tornaram possível um caso como o de Menocchio: a invenção da imprensa e a Reforma. A imprensa lhe permitiu confrontar os livros com a tradição oral em que havia crescido e lhe forneceu palavras para organizar o amontoado de ideias e fantasias que nele conviviam. A Reforma lhe deu audácia para comunicar o que pensava ao padre do vilarejo, conterrâneos, inquisidores – mesmo não tendo conseguido dizer tudo diante do papa, dos cardeais e dos príncipes, como queria. As rupturas gigantescas determinadas pelo fim do monopólio dos letrados sobre a cultura escrita e do monopólio dos clérigos sobre as questões religiosas haviam criado uma situação nova, potencialmente explosiva.

Antes de voltar ao livro de Ginzburg, no site Palavra da Verdade há a seguinte definição que se torna importante neste momento:
Inquisição - do latim Inquisitio, é um termo que deriva do ato judicial de inquirir, que significa perguntar, averiguar, pesquisar, interrogar. A Inquisição foi uma operação oficial conduzida pela Igreja Católica a fim de apurar e punir pessoas que não comungavam com os princípios ortodoxos da Igreja Católica.
Hereges - pessoas que pensavam, ou agiam, de forma conflitante com o que a Igreja apregoava como verdade.

De acordo com o livro, Menocchio teve a ousadia de “afirmar que o mundo tinha origem na putrefação”:
Tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos.

Concordo com o Posfácio escrito por Renato Janine Ribeiro nesta edição: “Menocchio é um herói, ou mártir da palavra”. Ele, um homem simples que leu muito (certo que não sabia escrever muito bem, uma vez que estava inserido ainda numa sociedade ainda com fortes traços de oralidade), e de fato, não só leu, refletiu. Ah, precisamos disso também hoje, ler, ter ideias, discordar, concordar com fundamento, enfim, pensar! Assim, como tenta esclarecer Ginzburg há uma ambiguidade em relação à “cultura popular”, em que ele conclui afirmando que há também “a impressionante convergência entre as posições de um desconhecido moleiro friulano e as de grupos de intelectuais dos mais refinados e conhecedores de seu tempo repropõe com toda força o problema da circularidade da cultura formulado por Bakhtin”. 

Segundo enfatizado por Renato Janine, “suas palavras são um protesto, são a recusa desse horror. Sua curiosidade, opiniões e destino fazem dele um desses homens para quem dizer o que pensam é tão importante que, por isso, arriscam a própria vida. Nem toda confissão é uma vitória da tortura; porque às vezes a pior tortura é ter a voz silenciada”. Dessa maneira de Menocchio, que tudo tenta entender  e questionar, o escritor afirma:

O importante não é o que o Menocchio leu ou recebeu – é como leu, é o que fez de suas experiências; o que diminui a distância que se costuma propor entre leitura e escrita, entre uma postura passiva e outra ativa diante do conhecimento.

Para saber mais sobre o autor Carlo Ginzburg e sobre a obra O Queijo e os Vermes, leia o livro ou acesse a resenha de William Cirilo.

sábado, 5 de julho de 2014

Assessoria aqui e em Portugal

 “Os assessores tornaram-se efetivo ponto de apoio de repórteres e editores (como um tipo de extensão das redações) ao agirem como intermediários qualificados, estabelecendo aproximação eficiente entre fontes de informação e imprensa. De um lado, auxiliaram os jornalistas, ao fornecer informações confiáveis e facilitar o acesso. Do outro, orientaram fontes na compreensão sobre as características da imprensa, as necessidades e vantagens de um relacionamento transparente. O salto de qualidade ocorre particularmente pela presença de profissionais com experiência em redações e disposição de estimular o diálogo”.
Jorge Duarte

Minhas últimas postagens foram sobre assessoria de imprensa. Nesta, para complementar o assunto, trarei uma comparação com Portugal. O tema me interessou ao ler o capítulo “Assessoria de Imprensa na Europa”, de Ana Viale Murtinho e Jorge Pedro de Sousa, no livro “Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia” (organizado por Jorge Duarte,  4ª edição, 2011). Nele se mostra a diferença existente entre as duas regiões, enquanto nos países europeus a atividade é entendida como um campo de atuação dos relações públicas, aqui é exercida por jornalistas, na maioria das vezes.

Um assessor é considerado um profissional de relações públicas, uma vez que gere as relações de uma entidade com a imprensa e elabora publicações empresariais, entre outras tarefas da assessoria.
A lei portuguesa, por seu turno, reforça a distinção entre jornalismo e jornalistas, por um lado, e assessoria de imprensa, por outro.
(...)
Em Portugal, os jornalistas não podem, assim, exercer ao mesmo tempo a assessoria de imprensa, em razão do conflito de interesses que pode emergir dessa situação.

Os autores mostram que para exercer a função em alguma assessoria, os jornalistas devem suspender temporária ou definitivamente o exercício da profissão, inclusive devolvendo as Carteiras Profissionais aos órgãos de controle para evitar a incompatibilidade de atuação.

Busquei na internet  mais informações e encontrei um trabalho interessante de  Marcela Ribeiro: Assessor de Imprensa e seu Relacionamento com a Mídia, em que a autora traça um “Retrato Comparativo desta Profissão entre Brasil e Portugal e sua relação com a Mídia”. De acordo com o trabalho, há uma grande diferença dos profissionais aptos a desenvolverem a profissão de Assessor de Imprensa entre os dois países.

O Brasil é o único país do mundo onde a profissão de assessor de imprensa está enquadrada dentro de uma das funções exercidas pelos jornalistas, segundo os decretos 972/69 e 83.284/79,que regulamentam a profissão de jornalista. Já em Portugal, como em qualquer outra parte do mundo, a profissão está enquadrada dentro das funções exercidas pelo profissional de Relações Públicas. No Brasil um jornalista pode exercer as duas funções desde que atue com rigor ético. Ou seja, não beneficiando seu assessorado dentro da empresa jornalística para qual atua. Em Portugal o jornalista também pode exercer a função de assessor de imprensa, mas deve cancelar sua licença de jornalista, a qual será liberada quando voltar ao cargo.

Marcela Ribeiro mostra que de acordo com o Estatuto do Jornalista de Portugal, “a profissão de jornalista é incompatível com as funções remuneradas de marketing, relações públicas, assessoria de imprensa e consultoria em comunicação ou imagem, bem como de orientação e execução de estratégias comerciais”.

Considerei muito pertinente registrar essa diferença na profissão exercida aqui no Brasil quando comparada com outras nacionalidades porque isso, de alguma forma, nos faz parar e refletir nossa ética, nossa atuação do dia a dia.



História – Já que estamos falando de Portugal, por que não ver um pouco do histórico da profissão e conhecer o “pai das Relações Públicas em Portugal”: Avellar Soeiro. Em 1960, segundo estudo de Marcela Ribeiro, foi “criado o primeiro cargo de Relações Públicas, assumido por Avellar Soeiro, pioneiro da profissão em Portugal. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil foi o primeiro organismo da Administração Pública a perceber a necessidade de um profissional para tratar das relações exteriores”. Mas o primeiro contato de Soeiro com as Relações Públicas ocorreu nos anos 40, quando trabalhava como em uma importante companhia britânica de telecomunicações internacionais e entre as mensagens que transmitia ou recebia, apareceu a sigla P.R.O. (Public Relations Officer ), que anos depois veio a exercer.

Encerro com uma dica de livros do professor Wilson da Costa Bueno, disponível no site da COMTEXTO Comunicação Empresarial.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Conhecendo termos de assessoria de imprensa

Ampliar o vocabulário e ao mesmo tempo conhecer instrumentos de trabalho é sempre importante, especialmente para nós que lidamos com comunicação. Outro dia li uma questão sobre “embargo” em jornalismo e considerei importante dividir com todos que visitam meu blog. Vamos lá.

Na busca que fiz na internet, encontrei uma definição de Ricardo Machado sobre os tais embargos:

Definem a data e hora antes das quais uma notícia não pode ser publicada. Deve estar no alto da primeira página.

De acordo com o assessor, “os jornalistas que não respeitarem os embargos devem ser removidos da sua lista de distribuição à imprensa”. Até hoje não utilizei dessa forma de trabalho, mas que é importante saber de sua existência e possibilidade,  pois pode algum dia servir para mim e também meus colegas das redações. Entre os exemplos de utilização dos embargos estão anúncio do resultado de pesquisa do IBGE e outras instituições, prestação de contas do Governo Federal e, eu ainda acrescentaria, a publicação de lista dos aprovados em vestibulares.

Que tal agora resolver algumas questões que caíram em concursos?

Nesta, aplicada pelo CESPE/UNB em 2011, para a EBC:
Com relação a técnicas de entrevistas, reportagens e redação para TV, rádio e Web, julgue os itens subsequentes.
Informações com embargo — repassadas ao jornalista pelo assessor de imprensa — são aquelas que podem ser veiculadas no momento em que o jornalista achar conveniente.   
Certo
Errado

Resposta: Incorreta, afinal, não é por conveniência que se acorda com o jornalista a publicação de tal informação somente após tal período, mas é porque a instituição como um todo trabalhará aquele dado a partir de tal data. E a informação antecipada à imprensa serve para melhorar a divulgação e aumentar possiblidade de aprofundamento do tema, caso haja interesse daquela editoria.

Outra do CESPE, de 2012, para Analista Judiciário - Comunicação Social do TJ-AL:
Assinale a opção correta no que concerne à atuação do assessor de imprensa em entrevistas coletivas.
a) O planejamento de entrevista coletiva requer checklist apurado, contendo as providências importantes, como o ensaio do assessorado com relação a eventuais perguntas embaraçosas.
 b) A prática de embargo faz parte de acordo tácito entre assessor e jornalistas, de modo que nenhuma das partes faça referências, nas entrevistas, a conteúdos não estipulados previamente.
c) Jornalistas não credenciados devem ser impedidos de participar de entrevistas coletivas, para evitar a redução no tempo cronometrado para cada pergunta e resposta.
d) É lícito que o assessor de imprensa exija, antecipadamente, cópia das questões elaboradas pelos jornalistas, pois o assessorado tem o direito de prevenir-se ou mesmo eximir-se de responder às perguntas indesejáveis.
e) Em entrevista coletiva monotemática, deve-se exigir credenciamento prévio, presença de jornalistas especializados e manutenção do tema proposto pelo assessor.
Resposta: Letra A. Sendo que no caso do embargo, não existe esse tal acordo citado na alternativa.

Da CESGRANRIO, tente esta:
Um problema comum nas redações e nas assessorias de comunicação é o jornalista ter conhecimento de uma informação relevante, mas estar impedido de divulgá-la logo. Denomina-se essa informação:
A)    com proibição.
B)    com embargo.
C)    sem exclusividade.
D)    sem apuração.
Resposta: B

Finalizo mostrando que também o jornalista Jorge Duarte, referência na área de comunicação, lista o embargo entre os instrumentos a serem utilizados por uma assessoria de imprensa:
- Áudio-Release
- Release Digital
- Press Kit
- Exclusivo
- Especial (um dossiê do bem, em que se cativa um jornalista para determinada matéria)
- Embargo (informação com data certa para divulgar)
- Produção e distribuição de artigos (de interesse público e bons textos)
- Criação de uma “cultura de comunicação” e de valorização e atendimento da imprensa
- Ronda de novas pautas
- E conheça os veículos (no caso do Globo Rural, o fechamento ocorre 45 dias antes!)

Enfim, aprenda a agendar o futuro, antecipe necessidades e demandas. Pois nós assessores de fato assessoramos é a sociedade, trabalhemos, portanto, para que não ocorram crises. Nossa meta deve ser trabalhar com riscos e não com crises!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Assessoria de Imprensa


“A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alveja, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça”.
Rui Barbosa -  A Imprensa e o Dever da Verdade

Continuando a minha série de aprendizagem com o jornalista Jorge Duarte – e que estava guardada em um rascunho – hoje o tema será destinado à assessoria de imprensa, da qual na época assistimos a um vídeo que continha as seguintes informações passada pelos entrevistados:
- Imprensa acaba descobrindo a verdade, não adianta esconder.
- Assessor de imprensa não é pago para defender o governo, mas para atender à sociedade. A instância que ele trabalha é a pública.
- Num momento delicado, deve dar a informação exata ao repórter. Se tem negativa do assessor, aí sim que se vai atrás para descobrir se tem alguma coisa.
- Assessor de imprensa é papel especializado para fazer intercâmbio entre a mídia e a instituição. É um grande espaço público. É um especialista.
- Serve para prestar informação à sociedade.
- É um facilitador, uma ponte para chegar à informação, viabilizar contato, uma vez que o jornalismo é para já.



Falando sobre media training, Duarte passou as seguintes informações sobre o treinamento dos porta-vozes institucionais: Quem faz o media training, o treinamento das fontes no dia a dia, somos nós. É uma atividade permanente, tendo em vista que não se vai a uma entrevista para responder perguntas, se vai para levar uma mensagem. Se utilizar de mensagens estratégicas, a fala dos gestores construirá sentido em quem está ouvindo ou assistindo, é algo subjetivo, muito maior que responder a indagações dos profissionais da imprensa.

“Influência não se improvisa, se planeja”! E o maior exemplo disso é Rosane Jatobá, que levava de seis a sete horas se preparando para falar os 45 segundos de sua “aparição” no Jornal Nacional na hora da previsão do tempo. Quando se tem um objetivo e se prepara, se planeja, tem-se muita mais chance de passar  a mensagem. Portanto, reflita: qual minha mensagem para a entrevista? Quais palavras-chaves nortearão minha fala? Qual manchete gostaria de ver sobre este assunto? O que é importante ser destacado? O que quero chamar a atenção?

Logicamente não vai se usar a técnica de Maluf, de ser questionado sobre “limão” e responder “maçã”. O conceito é não ludibriar o repórter, mas não interessa a pergunta e sim a resposta. As respostas são dadas, e juntamente com elas as mensagens que gostaria de passar, relacionadas ao questionamento inicial. E não use frases construídas, mas conceitos a serem passados. Lembre-se que uma resposta deve ser clara, objetiva e concisa.

Tem estratégia para fazer esse contato, fazer simulação com os gestores para prepará-los (pode ser por escrito). Ter como prática a preparação, discutir respostas, já que se espera que o representante da instituição seja o famoso “curto e grosso”, sendo sereno ao mesmo tempo. Afinal, ele é uma fonte, representa a empresa e a mostra como ela “é”. E a capacitação da fonte gera resultados mais efetivos com a imprensa, cria e fortalece a cultura da comunicação, reduz preconceitos e medos, aumenta a compreensão do papel e da atuação da imprensa e do jornalista.

O objetivo de um media training é aprender a atender à imprensa, tendo como modelos básicos de aplicação palestras, oficina, simulação e orientação individual.  Na sociedade atual, a palavra-chave é acesso, transparência!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

“Respeito é uma conquista”

A frase acima é do jornalista Jorge Duarte, e foi dita durante o curso Gestão da comunicação e assessoria de imprensa, realizado em Brasília em 2013. Nesta parte da aula, vimos que entre os desafios do gestor da área estão:
- mudança de paradigmas
- iniciativa, proatividade
- atualização permanente
- manter senso crítico (avaliar contextos)
- conquistar credibilidade (responsabilidade técnica)
- aprender a aprender
- além de participar dos processos decisórios, explicar a empresa para os públicos e os públicos para a empresa.

Para comparar nosso atual desafio, ele cita o caso dos advogados, que passam a noite analisando casos para chegar a uma solução. Devemos da mesma forma deixar de ter “ideias”, fazer “notinhas” ou “jornaizinhos”.  Essa forma de tratamento deprecia nosso próprio trabalho, o esforço que empreendemos. Daremos, assim, pareceres, projetos, enfim, concretude à complexidade do tema que lidamos em cada instituição.

Podemos dizer que esse conhecimento de Jorge Duarte também veio do processo vivido pelo setor de comunicação da EMBRAPA, hoje um dos mais consolidados e respeitados do serviço público brasileiro. Mas ele lembra que no início da década de 90 se vivia um período complicado, tanto que na época do presidente Collor se havia a tese de que era preciso modernizar o País, especialmente o setor público. Com isso, a Embraer foi fechada e o risco de extinção da EMBRAPA durante o governo FHC era grande. De pouco conhecida (era boa em pesquisa, não em comunicação), iniciou no ano de 1994 a se pensar na política de comunicação do órgão.

Obtendo o envolvimento direto da Diretoria Executiva, da elaboração dos documentos orientadores – a partir de um diagnóstico organizacional e de um debate interno, que contemplou conceitos, princípios, valores, diretrizes, procedimentos e ações estratégicas de comunicação – a EMBRAPA virou o jogo. Agora se segue um conjunto de ações com objetivo específico, que vai do programa de recepção de novos servidores ao atendimento à mídia.

As estratégias de elaboração da política de comunicação seguem o seguinte passo: diagnóstico organizacional, consultoria externa, discussão interna por meio de grupos de trabalho e outros, alinhamento com outras políticas de comunicação, validação em seminários regionais com aporte das outras áreas e setores. Concluída a política, chega a hora da implantação, por meio de campanhas, lançamento de manuais operacionais, programas de imagem institucional, entre outros. Jorge Duarte explica que de uma comunicação fragmentada no ano de 1996 chegou-se a uma visão integrada de comunicação na atualidade.

Após a implantação da Política de Comunicação, a EMBRAPA alcançou:
- maior presença na imprensa
- maior e melhor interação com o público
- conscientização da importância da comunicação
- fortalecimento da imagem e marca
- comunicação inserida na administração
- integração entre áreas

O que aprenderam:
- necessidade de apoio institucional
- necessidade de visão de futuro
- necessidade de diagnóstico
- participação de todos/engajamento
- processo de médio e longo prazo
- prazos e metas definidos

Pra resumir o processo de organização das assessorias:
1 – Planejamento Estratégico da Organização
2 – Política de Comunicação
3 – Planejamento Estratégico/Geral/Básico/Anual da Comunicação
4 a – Programas de Comunicação
4 b – Planos Setoriais
5 – Projetos (algo específico)
6 – Ações e Rotinas

Agora é só colocar em prática!
:)