domingo, 21 de agosto de 2016

Ainda sobre a Linguística...

Depois de ler as 312 do livro “Introdução à linguística 1: domínios e fronteira” de Anna Christina Bentes e Fernanda Mussalim, publicado pela Cortez Editora na Coleção Introdução à Linguística compreendi um pouco mais sobre os estudos linguísticos. Ainda me restam muitas dúvidas, mas para mim ele nos faz ter uma visão geral de todas as áreas (é que estou iniciando a leitura do segundo volume). 

Meu interesse na obra foi a seleção do Mestrado da Universidade Federal de Rondônia, em que o edital do Mestrado em Letras normalmente cobra algum campo de estudo e que o livro  nos mostra tão bem esses temas. No meu entender, se necessitar de algum embasamento nas outras questões, poderemos utilizar sim os conhecimentos aqui adquiridos. O que vejo de ponto favorável é a visão crítica que ele pode nos ofertar. Até mesmo nos campos da linguística mais tradicional não poderemos ver o texto isoladamente. Tudo depende do uso que necessitamos para ele, é claro, mas um texto nunca é isento, sem objetivos, por mais incoerente que esteja nos parecendo sempre é bom dar uma releitura:

(...) podemos perceber que as informações presentes nos noticiários não são neutras. Elas podem ser arranjadas para produzir efeitos muito específicos: no caso do exemplo (16), uma notícia afirma uma queda de 45% nas vendas de carros, muito provavelmente nos aponta para a construção de uma imagem pouco positiva da situação econômica do país; no mesmo dia, uma outra notícia, exemplo (17),  uma nota (18)que relata uma melhora na venda de carros populares, muito provavelmente nos aponta para a construção de uma imagem um pouco mais positiva da situação econômica do país; uma nota(18) sobre uma possível vitória de um determinado candidato nas próximas eleições presidenciais nos aponta para a construção de uma imagem bastante positiva do candidato em questão.
Relembrando sobre o livro, alguns apontamentos da internet:
O trabalho coletivo e engajado dos vários autores dessa obra resultou na sua consolidação como uma referência no Brasil: um material imprescindível para a formação dos profissionais da área de Letras e Linguística e também um guia de conhecimento básico do campo dos estudos da linguagem, que figura na bibliografia obrigatória de vários programas de pós-graduação no país. SUMÁRIO: 1. Sociolinguística; 2. Linguística Histórica; 3. Fonética; 4. Fonologia; 5. Morfologia; 6. Sintaxe; 7. Linguística Textual.
Professora do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora da Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Realizou pós-doutorado no Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia em Berkeley e é líder do Grupo de Pesquisa no CNPq intitulado Linguagem comoprática social: analisando a produção, a recepção e a avaliação de interações, gêneros do discurso e estilos linguísticos. Atua nas áreas de Sociolinguística, Linguística do Texto e do Discurso eLinguística Aplicada. Coordena o Centro de Pesquisa "Margens" (IEL/Unicamp). É organizadora de várias obras e autora de livros e de artigos científicos. É membro do Comitê Gestor e Editorial da CortezEditora.
Segundo a autora, o propósito da obra é: ir além dos limites da frase, que procura reintroduzir, em seu escopo teórico, o sujeito e a situação da comunicação, excluídos das pesquisas sobre alinguagem pelos postulados dessa mesma Linguística Estrutural, compreendendo a língua como um sistema e como código, com função puramente informativa.
Abrange três momentos com preocupações teóricasbastantes distintas entre si. No primeiro momento é voltado para a análise transfática onde não conseguiam explicar as teorias sintáticas que ficassem limitadas ao nível da frase; no segundo houve acompetência textual do falante, ou seja, a construção de gramáticas textuais e no terceiro o texto é visto não como um produto acabado, mas como um processo, resultante de operações comunicativas eprocessos lingüísticos em situações sociocomunicativas.
A construção dos sentidos no texto diz respeito ao modo como os elementos dão sentido quando chega aos interlocutores. 

E mais...

Compreendendo dois volumes, Introdução à Linguística: Domínios e Fronteiras é uma coletânea de textos que cobre "as diversas ramificações da Lingüística, aqui entendida como a ciência da linguagem verbal humana" (Ingedore Koch, capa da obra), destinada a leitores iniciantes ou não especializados, escrita por pesquisadores especialistas em suas respectivas áreas.
O Volume 1 inicia com textos sobre Sociolingüística (Tania Alkmim (parte I) e Roberto Gomes Camacho (parte II)) e Lingúística Histórica (Nilson Gabas Jr.), seguidos das "áreas que fazem parte daquilo que é tradicionalmente concebido como descrição gramatical das línguas naturais" (Introdução das organizadoras): Fonética (Gladis Massini-Cagliari e Luiz Carlos Cagliari), Fonologia (Angel Corbera Mori), Morfologia (Filomena Sandalo), Sintaxe (Rosane de Andrade Berlinck, Marina R. A. Augusto e Ana Paula Scher). Finaliza com o artigo de Anna Christina Bentes sobre Lingüística Textual.
O Volume 2 abrange mais 8 áreas: Semântica (Roberta Pires de Oliveira), Pragmática (Joana Plaza Pinto), Análise da Conversação (Ângela Paiva Dionísio), Análise do Discurso (Fernanda Mussalim), Neurolingüística (Edwiges Morato), Psicolingüística (Ari Pedro Balieiro Jr.), Aquisição da Linguagem (Ester Miriam Scarpa) e Língua e Ensino: Políticas de Fechamento (Marina Célia Mendonça).
Vale ressaltar a importância das reflexões apresentadas por Sírio Possenti ao prefaciar a obra, que além de salientar a relevância da publicação, traz à tona discussões recentes sobre o papel da Lingüística nos meios não-acadêmicos.
Segundo as organizadoras (na Introdução), apesar da vasta bibliografia de estudos no campo, o propósito da obra é, em uma linguagem acessível, apresentar uma amostra de como as diversas áreas abordam os fatos de linguagem, principalmente no Brasil. "Propõe-se a ser uma porta de entrada para o campo de Lingüística, um campo vasto, heterogêneo, multidisciplinar".

Linguística Textual

Chegamos ao último capítulo do livro Introdução à Linguística, organizado pelas professoras Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes. Linguística Textual foi escrito por Anna Christina Bentes, que nos mostra que a Linguística de Texto surgiu com solinguista alemão Harald Weinrich e demorou pelo menos 30 anos para tornar-se menos questionável. Busca ir além da frase, reintroduzir o sujeito e a situação de comunicação e opõe-se, assim, à Linguística Estrutural (que compreendia a língua como sistema e códigos, com função puramente informativa).

A linguística do discurso faz parte desse esforço de várias abordagens de ir além da frase, e  surge não de forma homogênea, mas independente, com propostas teóricas diversas. Inclui diversos autores dos Estados Unidos e Europa. Na França, a Análise de Discurso: abordagens semiológicas (Roland Barthes, Greimas), das pesquisas sobre as pressuposições (Oswald Ducrot) e a elaboração do conceito de enunciação (Émile Benveniste).

Três momentos fazem parte da “história” da Linguística Textual: análise transfrástica (fenômenos que não conseguiam ser explicados pelas teorias sintáticas ou semânticas); construção das gramáticas textuais (com a euforia provocada pela gramática gerativa, postulou-se a descrição da competência textual do falante); e teoria do texto (o texto passa a ser estudado dentro de seu contexto de produção e a ser compreendido não como um produto acabado, mas como um processo, resultado de operações comunicativas e processos linguísticos em situações sociocomunicativas). Lembrando: não é possível afirmar que houve ordem cronológica entre os dois primeiros momentos (análise transfrástica e das gramáticas textuais).

1) Análise transfrástica – da frase para o texto. Teóricos = Harweg (1968): texto é uma sequência pronominal ininterrupta. Isenberg (1970): texto é uma sequência coerente de enunciados.
Fenômeno da correferenciação: “Pedro foi ao cinema. Ele não gostou do filme.” O pronome empregado (ele) não é simples substituição, mas fornece ao leitor/ouvinte instruções do contexto entre a predicação que faz do pronome, contribuindo para a imagem do referente (Pedro). Também era estudada a pronominalização, a seleção de artigos (definidos e indefinidos), a concordância de tempos verbais, a relação tópico-comentário e outros.

2) Elaboração de gramáticas textuais – tentou-se construir, segundo Marcushi, o texto como objeto da Linguística. Os teóricos pensavam em uma gramática que refletisse sobre os fenômenos linguísticos inexplicáveis por meio de uma gramática de enunciados. Todo falante nativo possui conhecimento do que seja um texto. O conjunto de regras internalizadas pelo falante constitui sua competência textual. Para Charolles (1989) possui três capacidades básicas (competência textual):
- capacidade formativa, que lhe permite produzir e compreender um número potencialmente elevado e ilimitado de textos inéditos e que também lhe possibilita a avaliação, com convergência, da boa ou má formação de um texto dado;- capacidade transformativa, que o torna capaz de formular, parafrasear e resumir um texto dado, bem como avaliar, com convergência, a adequação do produto dessas atividades em relação ao texto a partir do qual a atividade foi executada;- capacidade qualificativa, que lhe confere a possibilidade de tipificar, com convergência, um texto dado, isto é, dizer se ele é uma descrição, narração, argumentação etc., e também a possibilidade de produzir um texto de um tipo particular. 

Completando, Fávero e Koch (1983), se os usuários da língua possuem essas habilidades, então, uma gramática textual teria as seguintes tarefas:
- verificação do que faz com que um texto, ou seja, a busca da determinação de seus princípios de constituição, dos fatores responsáveis por sua coerência, das condições em que se manifesta a textualidade;
- levantamento de critérios para a delimitação de textos, já que a completude é uma das características essenciais ao texto;
- diferenciação de várias espécies de texto. 
A elaboração de gramáticas textuais foi bastante influenciada pela perspectiva gerativista (semelhante à gramática de frases de Chomsky). Mas projeto não conseguiu ser realizado a contento. Era um projeto que estava muito preocupado em descrever a competência textual de falantes/ouvintes idealizados. Como não foi possível, a proposta passou a se investigar a constituição, funcionamento e compreensão de textos em uso = elaboração de uma teoria de texto.

3) Neste momento, o âmbito da investigação se estende do texto ao contexto (conjunto de condições externas para produção/recepção e interpretação de textos), noção de textualidade. Assim: língua passa a ser vista não como um sistema virtual, mas como um sistema atual, em uso efetivo em contextos comunicativos. Texto não mais como produto, mas como processo. A análise e explicação da unidade de texto em funcionamento, não o texto abstrato, formal.

A parir dos anos 70, Linguística de Texto é compreendida, dessa forma, como uma disciplina essencialmente interdisciplinar. E, atualmente, multidisciplinar, dinâmica, funcional e processual. Princípios gerais de textualidade (Beaugrande e Dressler): coesividade, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situcionalidade e intertextualidade.

Interessante observar na história da constituição do sentido de texto na Linguística Textual é uma separação ocorrida entre estudos sobre texto/discurso de base anglo-saxã e a Análise de Discurso de linha francesa: enquanto na AD não se permite que se atribua ao sujeito nenhuma intencionalidade (ele é assujeitado), em Linguística Textual o sujeito sabe o que faz, como faz e com que propósito faz (a produção textual é uma atividade verbal consciente, intencional).

Definição de texto/objeto da Linguística Textual (não existe apenas uma definição): de acordo com Koch, texto é o resultado de uma atividade verbal, que revela determinadas operações linguísticas e cognitivas, efetuadas tanto no campo de sua produção, como de sua recepção.

Os conceitos de coesão e coerência são imprescindíveis para aqueles que pretendem trabalhar com níveis textuais e/ou discursivos de realização da língua. Eles estão ligados à construção dos sentidos do texto, a coesão é o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentido. E a coerência é o modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a construir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos.

Debate atual: existe o não texto? Incoerente, sem sentido... para alguns autores sim, para outros não. Conforme Charolles, “o texto será incoerente se não souber adequá-lo à situação, levando em conta intenção comunicativa, objetivos, destinatário, regras socioculturais, outros elementos da situação, uso dos recursos linguísticos etc. caso contrário, será coerente”.

Princípio da Interpretabilidade (a princípio todos os textos são coerentes): leitores/destinatários podem fazer julgamentos sobre a coesão ou não de determinada produção textual. Coerência depende de fatores diversos (recursos linguísticos, conhecimento de mundo, papel social do leitor ou destinatário, etc). Ex.: música Debaixo dos caracóis dos seus cabelos (Roberto e Erasmo Carlos) em que o conhecimento da situação comunicativa mais ampla colabora para entender que a pessoa que está em lugar distante e que não está feliz fala sobre artistas e intelectuais exilados na época da ditadura militar (em especial sobre Caetano Veloso). Lógico, música é polissêmica e sua poesia pode ter diversas outras interpretações para quem ouve.

Texto é constituído de um emaranhado de pontos de vistas, com diversas configurações de vozes e perspectivas enunciativas. A polifonia = jogo de vozes no discurso. Locutor de um texto incorpora em seu discurso asserções atribuídas a outros enunciadores (personagens do discurso), aos interlocutores, a terceiros, a pontos de vistas diferentes ou até mesmo à opinião pública em geral.

Conclusão: o texto de Anna Bentes apresentou a área de Linguística Textual no Brasil e conseguiu desenvolver teoricamente para propiciar análises sistemáticas de produções textuais sociocognitivamente contextualizadas. O mecanismo de coesão referencial (componentes da superfície do texto que fazem remissão a outro ou outros elementos do universo textual: catafórico, definitização, elipse, entre outros) não é usado ingenuamente, estando, na maioria dos casos, a serviço dos objetivos do locutor no momento da produção de seu texto.

Sonhos em noite de verão, inverno, outono...

“[...] Os festejos de inverno não acontecerão por falta de cânticos, logo, a lua, que governa as enchentes, pálida de raiva, lava todo o céu; e, por conta da chuva, as doenças reumáticas abundam. E, por causa desse tempo desregrado, vemos as estações se alterarem e a grisalha geada cair sobre o colo ainda morno da rosa carmim. E um velho senhor inverno, ostentando uma coroa fina de gelo, também ostenta uma corrente de botões de flores veranis, os quais perfazem um conjunto cômico. A primavera, o verão, o frutífero outono, o bravo  inverno mudam suas roupagens costumeiras, e o mundo, confuso, não sabe dizer qual é uma e qual é outra. E essa mesma proliferação de males nasce de nossas brigas, de nossas desavenças; nós criamos esses males e somos sua origem”

A passagem acima está na página 35 do livro Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare (publicado pela editora Martin Claret/São Paulo, em 2013, com tradução de Marilise Resende Bertin).

Ao ver essa informação me veio à cabeça todas as nossas falas atuais de que o clima está muito alterado. Sim, está. Mas há quanto tempo ele está assim?

O texto foi escrito há mais de 400 anos, antes da revolução industrial, portanto. Antes do homem começar mais ferrenhamente a alterar natureza.

Ainda no prefácio do livro podemos ver que Sonho de uma noite de verão (A Midsummer Night’s Dream) foi escrito entre 1593 e 1594, quando na Inglaterra há registros de vários “sinais de ira de Deus”: “tempestades, pestilência, escassez e mudanças climáticas ocorridas fora das estações do ano”.
Em outro capítulo do livro, que ainda não li, terá segundo o prefácio o seguinte trecho:

“Lembre-se que a primavera (no ano em que a peste começou) foi inclemente, por causa da chuva abundante que caiu; nosso mês de julho está igual ao de fevereiro; nosso junho semelhante ao nosso mês de abril, o que significa que o ar deve estar poluído”. 

Eu só posso concordar com a ideia do livro, de que como o “sonho” que pode ser qualquer coisa, assim também nós podemos através do tempo mantemos o discurso de que nada é como antes (no sentido de que o clima está em constante mudança). E nisso, nem mesmo nós continuamos os mesmos! 

domingo, 19 de junho de 2016

Sintaxe

Escrito por Rosane Andrade Berlinck, Marina R. A. Augusto e Ana Paula Scher, o capítulo sobre Sintaxe do livro Introdução à Linguística (Orgs.Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes) é o estudo do post de hoje.

Primeiro, o que significa mesmo sintaxe?
Do grego syntaxis = ordem, disposição
Esta é a parte da gramática que descreve o modo como as palavras são combinadas para compor sentenças. Seu nascimento vem com o livro de John Ries (1894) com o título O que é Sintaxe? No início do século XIX os estudos linguísticos se interessam pelos fenômenos fonéticos e morfológicos. É com Saussure se torna uma disciplina autônoma.

Sintaxe estuda as SENTENÇAS: do ponto de vista formal (Formalismo) e do ponto de vista das suas funções (Funcionalismo).  As das abordagens não correspondem a teorias particulares, mas cada uma está ligada a vários modelos teóricos que, diferindo em certos aspectos, apresentam pontos essenciais em comum. Na verdade não são opostas, mas complementares.

Visão formalista (estudo das características internas da língua): “se dedica a questões relacionadas à estrutura linguística, sem se voltar especialmente para as relações entre a língua e o contexto (situação comunicativa) em que se insere”. Busca explicar a estruturação sintático/formal de cada sistema linguístico (posição SVO: sujeito, verbo e objeto). Pela teoria gerativista chomskyana a linguagem é vista como dotação genética, uma gramática interiorizada.

Visão funcionalista: comunicação exerce função essencial da linguagem, o que determina o modo como a língua está estruturada (existe variação linguística, pois quem fala, faz escolhas), por isso a análise ocorre para além da sentença (componentes semântico e discursivo, e o contexto em que está inserida=texto e a situação comunicativa). “É neste espaço ampliado de análise que se vão buscar motivações de escolhas que o falante faz em termos estruturais”.  O universo de análise é língua em uso. E o contexto é elemento importante para identificar de que forma realiza suas funções. Por exemplo, uma pergunta pode contribuir na formação da frase com ênfase que não a ordem direta (SVO).

Para finalizar: a linguagem e a língua são objetos complexos, dinâmicos e “vivos”, que admitem muitos olhares diferentes, sem que um necessariamente elimine o outro. Assim, os autores defendem que é necessário abandonar a concepção de linguagem que vincula correção gramatical à forte e arraigadas tradições normativas.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Gerativismo

Minha mãe interpretava o significado das ações a partir de um dicionário diferente daquele utilizado pela maioria de nós e com regras de gramática específicas. As interpretações se tornaram para ela automáticas, não conscientes. Assim como todos entendemos a linguagem falada sem qualquer aplicação consciente de regras de linguística, minha mãe entendia as mensagens do mundo sem qualquer consciência de que suas experiências anteriores tinham moldado suas expectativas para sempre. 

A passagem acima é do livro Subliminar: Como o inconsciente influencia nossas vidas, de Leonard Mlodinow. Ao clicar aqui tem uma resenha sobre o livro, e caso se interesse em depois fazer a leitura do livro, é uma boa pedida.

Quando li esse trecho de Subliminar me acionou na memória a ideia da teoria gerativista, também norte-americana, e que tentava colocar no papel a "gramática internalizada" que temos conosco.

Pode-se dizer que a Gramática Gerativa nasceu em 1957, quando Chomsky lançou seu livro Syntact Structures, inaugurando uma perspectiva mais naturalista dos estudos sobre a linguagem. A Teoria Gerativa é, portanto, uma teoria que se propõe a estudar a linguagem levando em conta as propriedades da mente humana e a relação destas com a organização biológica da espécie.
Com base no pressuposto de que a linguagem é um sistema de conhecimentos inatos, portanto geneticamente determinado, inconsciente e modular, a Teoria Gerativa define seu programa de investigação tentando responder a algumas perguntas, dentre as quais:(1) Como a gramática mental de um indivíduo é representada em sua mente, isto é, o que há na mente de um falante que lhe permite produzir ou compreender sentenças de sua língua?(2) Como o conhecimento da linguagem é adquirido e quais conhecimentos uma criança tem quando do início do processo de aquisição da linguagem?(3) Como um indivíduo põe seu conhecimento lingüístico em uso?(4) Como é que as propriedades relacionadas à linguagem se realizam nos mecanismos do cérebro?



No modelo gerativista:
Seguindo uma tendência Inatista e, por sua vez Racionalista, o modelo gerativista se propõe explicar as manifestações da aquisição de linguagem partindo do principio de que a criança já nasce dotada de ”... uma capacidade inata de aquisição da linguagem”. Nessa abordagem a aquisição de uma língua materna é o resultado direto do amadurecimento dessa criança, ou seja, uma conseqüência de sua capacidade de formular suposições, respostas às questões que lhe surgem e de procurar e encontrar algumas semelhanças presentes na língua a ser adquirida.


O gerativismo que nasce com Noam Chomsky na segunda metade do século XX reabilita o inatismo cartesiano e romântico e propõe uma gramática universal que vise explicar o funcionamento das estruturas linguísticas, da aquisição e a capacidade de uso da língua através do estudo das faculdades mentais. 


Não concordo muito, porque para mim Saussure é ainda muito importante na formação da linguística como ciência, mas segue trecho da Revista Super Interessante que é um complemento sobre Chomsky:

Linguística é o estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas e da história desses idiomas. Quando Chomsky apareceu no cenário intelectual, esse ramo da ciência tinha vivido poucos avanços significativos. Para falar a verdade, dois. O primeiro foi a criação da tradição clássica, originada no mundo grego, que perdurou até o final do século 19. O segundo salto foi o estruturalismo, criado pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913).


O Inatismo, hipótese abordado por Noam Chomsky, defende que o ser humano é provido de uma gramática inata, ou seja, esta já nasce com a pessoa, e vai tomando forma conforme o seu desenvolvimento. E a criança toma como base para seu desenvolvimento a fala dos adultos, que servem de estrutura para o desenvolvimento de suas próprias regras. A partir do momento que a criança incorpora como modelo algumas estruturas da língua mãe, não é porque imitou, mas por que incorporou novos modelos de regras para sua língua.  


No gerativismo, o principal teórico é o linguista Noam Chomsky.

(...)
Usando esse argumento Chomsky faz valer a sua teoria comprovando que a capacidade linguística está inscrita no código genético do ser humano e que a criança necessita apenas de um certo “empurrãozinho” para desenvolver a gramática especifica que é a sua gramática nativa.


Quem é Noam Chomsky?

Noam Chomsky (1928) é professor e ativista político norte-americano. Tornou-se conhecido por suas críticas contra a política externa americana. É professor do Massachusetts Institute of Technology. Desenvolveu uma teoria que revolucionou o estudo da linguística.



Chomsky é considerado o fundador da gramática generativa-transformacional, que a seu entender constitui a base para o desenvolvimento de uma gramática comum a todos os idiomas. Seus estudos fundamentam-se na tese de que todos os seres humanos nascem detentores de um conjunto determinado de conhecimentos do idioma universal, constituindo estes a "estrutura profunda" da língua. 


E já que iniciei com o livro Subliminar, vou fechar o post-registro com ele! Porque essa história de influência do inconsciente nas nossas vidas para mim é muito forte. E a memória é um pouco de tudo isso que nos constitui, tendo ou não uma gramática dentro da gente. Somos um pouco de cada vivência que consciente ou inconscientemente passamos.

Nosso cérebro usa o mesmo truque na memória. Se você tivesse projetando o sistema da memória humana, provavelmente não teria escolhido um processo que descartasse dados a granel e depois, quando precisasse recuperá-los, inventasse as coisas. Mas, para a grande maioria de nós, o método funciona bem na maior parte do tempo. Nossa espécie não teria sobrevivido não fosse isso. Por meio da evolução, a perfeição pode ser abandonada para chegar à aptidão necessária. A lição que isso me ensina é de humildade e gratidão. Humildade porque qualquer confiança que eu possa sentir em relação a alguma memória específica pode estar deslocada; e gratidão pelas memórias que retenho e pela capacidade de não reter todas elas. A memória e a percepção conscientes realizam seus milagres com uma forte dependência do inconsciente. 




domingo, 12 de junho de 2016

Morfologia

Vamos à leitura de mais uma etapa do livro Introdução à Linguística, organizado pelas professoras Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes?

Desta vez será o capítulo que trata de MORFOLOGIA, escrito pela professora Maria Filomena Spatti Sândalo, do Departamento de Linguística da Unicamp.

Objetivo do capítulo é demonstrar as contradições da área (correntes construtivistas e gerativistas) e que o momento atual é de maior acordo sobre o papel da Morfologia na gramática. A Morfologia trata da estrutura interna das palavras.

Mas não se engane, a noção de palavra é controversa dentro da Linguística (construtor X que constrói possuem o mesmo significado, ou da mesma forma que em algumas línguas – Kadiwéu ou Georgiano, por exemplo – parecem frases para nós brasileiros que falamos o português e não estas duas línguas).

Assim, a palavra é a unidade máxima da Morfologia = é uma sequência de sons que pode ser usada como resposta mínima a uma pergunta e em várias posições sintáticas. As unidades mínimas da Morfologia são os elementos que compõem a palavra (e não são os mesmo da Fonologia) – Elementos que carregam significados dentro das palavras são rotulados de morfemas:

NACIONALIZAÇÃO
Nação = pátria
+ al = nacional (adjetivo)
+ izar = nacionalizar (verbo)
+ ção = nacionalização (substantivo)

Para o Estruturalismo, Morfologia é de crucial importância: assim, uma das preocupações da Linguística é de tentar explicar como reconheceremos palavras que nunca ouvimos antes e como podemos criar palavras que nunca foram proferidas antes.  A partir da década de 60, com a teoria gerativa, a Morfologia perdeu espaço. A Sintaxe (formação de sentenças) passa a ser ponto central da gramática. Após novas teorias de que a Sintaxe não pode ficar cega (Anderson, 1982), e  a Morfologia ganha novos espaços.

Teoria da Otimilidade: possui ambicioso objetivo de ser uma teoria da linguagem como um todo (analisar e explicar qualquer fenômeno linguístico por meio de uma mesma instrumentação). Interação entre Fonologia e Morfologia e Morfologia e Sintaxe.

De acordo com o modelo gerativo, otimalista ou não, os mecanismos responsáveis pela linguagem são inatos (não dependem de aspectos culturais). Assim, diante de tanta diversidade existente, o trabalho é demonstrar se existe de fato uma gramática universal -  qual é a natureza dessa gramática universal que permite tamanha diversidade linguística. Com isso, a Morfologia volta a ser o principal campo de investigação da teoria gerativa atual. E passa a haver uma convergência entre o gerativismo atual e o estruturalismo, ao considerar a Morfologia um ponto crucial de investigação.

domingo, 5 de junho de 2016

Linguística: dia a dia e ciência

Comecei a me interessar mais por linguística. Afinal, linguagem passará a dominar uma porcentagem maior dos meus estudos a partir de agora. Mas antes de ir aos clássicos, por que não aproveitar o que o dia a dia nos oferece?

Depois de mais de ano, concluí a leitura de Cinquenta tons de cinza, na verdade vou ler apenas este exemplar da trilogia de E L James (porque me disseram que é o melhor de todos eles – risos!). E cito este livro aqui porque encontrei uma passagem que me interessa para este post:

Prezado Senhor, 
A língua é dinâmica e evolui. Trata-se de uma coisa orgânica. Não está presa em uma torre de marfim com um heliporto no teto e dominando quase toda Seattle, cheia de obras de arte caras penduradas na parede.

Esse trecho do e-mail é uma resposta de Anastasia Steele a Christian Grey quando ele tenta fazer um alerta a ela de que a expressão “esquisitérrimo” não devia ser usada por alguém que quisesse trabalhar em funções do mercado editorial.

Concordo com Ana Steele, língua evolui, é viva! Em outra troca de e-mails entre os dois personagens do livro, ela incluiu ao que chamaram de “linguística descritiva” entre os limites rígidos do possível contrato a ser assinado entre ambos. No caso, se referiam ao “que se danem” não ser uma expressão muito “educada”.

Vendo esses momentos de troca de mensagens no livro lembrei muito dos debates sobre a imposição de uma gramática distanciada do povo que a utiliza e que não reflete a língua falada até mesmo pelos “altos escalões sociais”. Ao preconceito linguístico que vai se formando diariamente entre nós, diante das pessoas que não seguem “corretamente” o que “ensina a escola”. Isso, por si só já daria um artigo científico, uma dissertação ou mesmo uma tese.

E se nos aprofundarmos, veremos que  diferente do senso-comum, a linguística enquanto ciência não irá ditar normas e regras sobre o bom/exemplar (ou o condenável) no uso da língua. A linguística terá como preocupação descrever ou explicar a linguagem verbal (oral ou escrita). Fica aí a reflexão sobre como tentamos utilizar o nome da linguística no dia a dia, buscando nos amparar num conhecimento que nem nós temos!

Voltemos ao meu blog, que tem pretensões muito mais simples. Como disse no início, me interesso em entender a linguística e seus campos de estudos. O que está abaixo é um apanhado de informações de sites e livros, marcações que deixei caso necessitasse de uma ajuda de última hora. Vamos ao resumo da história da linguística:

A linguística, tal como a conhecida atualmente, é filha de Ferdinand de Saussure. Publicado em 1916, a partir de anotações de aulas reunidas e publicadas por dois de seus alunos, o Curso de linguística geral será responsável à linguagem a forma de uma ciência autônoma, independente. Mesmo a linguística estruturalista sendo criticada por diversas tendências, é certa a sua importância e sua referência obrigatória para qualquer teoria linguística atual. 
Para Saussure, língua é um sistema abstrato, um fato social, geral, virtual. A fala, ao contrário, é a realização concreta da língua pelo sujeito falante, sendo circunstancial e variável. A organização interna da língua seria na teoria saussuriana: sistema, mas que posteriormente será denominada estrutura. Uma das formas do estruturalismo é o formalismo, que objetiva considera as funções desempenhadas por elementos linguísticos, sob quaisquer de seus aspectos: fônicos, gramaticais e semânticos. Dentro da linguística existe grande pluralidade teórica, e isso é importante na medida em que dá ao pesquisador a liberdade de escolher seu objeto teórico – e favorece, também, o desenvolvimento da área, pois somente uma teoria não dá conta de trabalhar com todos os fenômenos linguísticos.  Borges Neto  explica que a “linguagem é um objeto de tal complexidade que todas as possibilidades de abordagem serão sempre parciais”. Ao responder às primeiras questões, o que aparecerá no debate serão as concepções iniciais de linguagem, postuladas pelos filósofos anteriores ao século XIX, como Platão e Aristóteles, quando a “linguística” (entre aspas, pois o que existia eram estudos sobre a linguagem e não uma linguística – ciência da linguagem – propriamente dita) era dividida entre as opções nocional e filológica, desenvolvidas com maior profundidade mais à frente. Depois do século XIX, entra em debate o tópico sobre fazer da linguística uma ciência e o que aparece é a opção histórica, com a linguística histórico-comparativa.  A partir desse breve histórico, o artigo segue o caminho das teorias e seus objetos que estão em concorrência na linguística, passando pelo estruturalismo, com Saussure, pelo gerativismo, com Chomsky, e, finalmente, pela sociolinguística, com Labov, de onde se encaminhará o estudo para a questão da mudança linguística através do tempo.Definição de nocional e filológica: a opção nocional, cujos principais representantes eram Platão e Aristóteles, referia-se ao estudo da linguagem a partir da relação entre som e sentido, ignorando qualquer tipo de variação linguística; já a opção filológica, representada principalmente pelos gramáticos alexandrinos, não ignorava a variação linguística, mas a colocava como desvio, configurando-se, desse modo, possivelmente, como a primeira perspectiva normativa/prescritiva na história dos estudos da linguagem. A linguística se constituiu como ciência, no sentido que a modernidade deu ao termo, a partir dos últimos anos do século XVIII, quando William Jones, o juiz inglês que exercia seu ofício na burocracia colonial em Calcutá, entrou em contato com o sânscrito. Impressionado com as semelhanças entre essa língua, o grego e o latim, levantou a hipótese de que semelhanças de tal magnitude não poderiam ser atribuídas ao acaso; era forçoso reconhecer que essas três línguas tinham uma origem comum. As duas abordagens [de Saussure e Chomsky] são radicalmente distintas em certos aspectos; mas têm em comum a característica da abstração do plano sócio-histórico. A construção de uma ciência não se dá de maneira uniforme e regular ao longo da história. Ao contrário disso, constitui um processo ideológico, filosófico, histórico e socialmente constituído, fruto de uma época, e requer, portanto, um período de testagem, para afirmação ou contestação de paradigmas. Trata-se de um processo dialético cujas investigações em torno de uma verdade exigem uma série de idas e vindas, de entraves e reajustes, para se chegar a resultados realmente confiáveis.Por conseguinte, estudar o histórico da Linguística, desde os momentos em que não passava de curiosidade, ao momento em que se torna ciência e até a atualidade, fornece, assim, uma maneira de pensar e refletir sobre a linguagem. Esta, por sua vez, move o homem, visto que em muito contribui nas relações de poder. Não obstante, esta ciência evoluirá muito mais, dissipando os mistérios sobre ela e tornando-se um universo em que a língua e suas particularidades dominam de forma soberana e singular.A linguagem é a capacidade natural que o ser humano tem de se comunicar, seja por meio de palavras, gestos, imagens, sons , cores, expressões, etc. A língua é o conjunto de sinais que determinadas comunidades usam para se comunicar.Compreender o que é a língua é preocupação de todos os tempos e, mais que isso, a necessidade de conhecê-la não é privativa de professores e filósofos. Trata-se de um fenômeno altamente instigante cuja compreensão está ligada ao desenvolvimento de pesquisas em todas as ciências humanas. 

sábado, 14 de maio de 2016

Jornalismo Ambiental

Estou concluindo o curso Herramientas Digitales de Periodismo Ambiental,  oferecido pelo site argentino Claves 21. Um dos trabalhos era fazer análise sobre a cobertura da mídia brasileira a respeito da reunião COP 21 realizada em Paris e depois assinada em Nova Iorque. Não foi uma análise aprofundada, mas serve como início de um debate sobre o tema.


Cobertura midiática da COP 21 – Exemplos tirados da imprensa brasileira
A COP 21 ou a Conferência do Clima de Paris como é oficialmente conhecida a 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) foi concluída no mês de dezembro do ano passado. Este é um órgão das Nações Unidas responsável pelo clima, sua sede fica em Bonn, na Alemanha.  Para analisar os meios de comunicação e a cobertura feita durante a reunião sobre mudanças climáticas e a posterior assinatura do acordo é necessário localizar publicações sobre o tema. Para fazer esta nota, primeiramente utilizou-se o buscador Google. Foram mais de 448 mil resultados para notícias relacionadas à COP 21.

A reunião é anual e conforme explica a ONU: “não existem soluções rápidas ou mágicas para as mudanças climáticas. O desafio do clima é um dos mais complexos que o mundo já enfrentou. No entanto, as mudanças climáticas encontram-se atualmente no topo da agenda global e dos líderes de países, cidades, setor privado, sociedade civil e religiões, que estão tomando medidas”. O  objetivo da reunião era o de ratificar e buscar meios de limitar o aumento da temperatura global a 2ºC até ao final do século, assim como foi decidido pela primeira vez em Copenhague e, depois, aprovado na Cúpula do Clima em Cancún, em 2010.

O texto final do acordo do clima da COP 21 foi batizado de "Transformando nosso mundo: a agenda de Desenvolvimento Sustentável para 2030", tendo a participação de delegados de 190 países do mundo.  Já daqui a dois anos, um levantamento parcial está programado  para ser novamente divulgado, pois 2018 é o ano em que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) deverá apresentar um novo relatório sobre as consequências de um aquecimento superior a 1,5º C em relação ao nível pré-industrial.

No site da Revista Exame, ligada à Editora Abril, publicada no dia 12 de dezembro de 2015, está a reportagem "COP 21 divulga texto para acordo histórico", disponível em http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/cop-21-divulga-acordo-historico-pelo-clima
A revista trouxe a íntegra do acordo, fez matéria expositiva sobre o que ocorreu durante o encontro em Paris e trouxe várias falas de representantes, algumas mais contundentes sobre a precariedade do que foi acordado e outras mais otimistas.

Já no site UOL, a notícia traz desde o título uma preocupação em relação ao final da reunião: "Acordo do clima na COP-21 é sucesso ainda a ser confirmado", com informações do Le Monde. A notícia foi publicada no dia 29/12 em http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/le-monde/2015/12/29/cop21-um-sucesso-ainda-a-ser-confirmado.htm
"Em vinte anos de negociações climáticas multilaterais, foram raras as ocasiões para se comemorar um verdadeiro engajamento da comunidade internacional frente à ameaça bem verdadeira do aquecimento global", traz o texto sobre uma satisfação pela realização desse novo momento coletivo de debate em relação ao clima, já antecipando todo trabalho que os países têm pela frente se quiserem que a temperatura do planeta não suba acima dos 2ºC anteriores à Revolução Industrial.

Para o G1 "O acordo do Clima aprovado em Paris neste sábado (12) não resolve o problema do aquecimento global, apenas cria um ambiente político mais favorável à tomada de decisão para que os objetivos assinalados formalmente por 196 países seja alcançado."
A nota leva como título "COP-21 já foi. E agora,o que virá?", analisando as contradições aplicadas nos países, como exemplo tem-se: "Estimular a compra de veículos automotores - com a redução do IPI, por exemplo - não é algo compatível com o Acordo de Paris, assim como a prorrogação do prazo para a existência de lixões no Brasil - a decomposição da matéria orgânica provoca emissões importantes de metano (CH4) que é um gás de efeito estufa - recentemente aprovada pelo Congresso." A notícia está disponível em http://g1.globo.com/natureza/blog/mundo-sustentavel/post/cop-21-ja-foi-e-agorao-que-vira.html

Ainda no dia 14/12, o Portal G1 fala sobre perguntas e respostas sobre o acordo do clima de Paris, disponível em http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/12/acordo-de-paris-sobre-o-clima-veja-perguntas-e-respostas.html sendo muito mais uma matéria explicativa. "O acordo  determina que seus 195 países signatários ajam para que a temperatura média do planeta sofra uma elevação 'muito abaixo de 2°C' até 2100".

Mudança de Foco
Já quando o assunto foi a assinatura do acordo, neste ano nos Estados Unidos, ficou registrado no Google menor destaque aos debates propriamente ditos da COP 21. Então, se encontrará mais notícias relacionadas à mídia que tradicionalmente trabalha com meio ambiente. Na Revista Ecológica, destaca-se a partir do título: "Líderes mundiais assinam Acordo de Paris em Nova Iorque", com a presença de representantes de 175 países, conforme pode ser visto em http://www.revistaecologica.com/lideres-mundiais-assinam-acordo-de-paris-em-nova-york/

Na Carta Maior, do dia 24 de abril último, tradicionalmente mais questionadora, lança a notícia de que ainda pouco se vê de comprometimento entre os países que mais emitem à atmosfera gazes de efeito estufa. "Acordo de Paris é apenas primeiro passo para justiça climática", http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/Acordo-de-Paris-e-apenas-primeiro-passo-para-justica-climatica/3/36014 , fala sobre a "a magnitude da cerimônia de assinatura em Nova Iorque – a qual contou com a participação de países como o pequeno Palau até os maiores poluentes como os Estados Unidos e a China".

Devido ao momento político vivido no Brasil, a reunião global ficou em segundo plano, com o foco da grande mídia brasileira virado para a presença da Presidente Dilma Rousseff (http://www.valor.com.br/politica/4531543/dilma-decide-viajar-nova-york-para-denunciar-o-golpe-na-onu - Dilma decide viajar a Nova York para denunciar o "golpe" na ONU). Os meios de comunicação foram mais enfáticos no que a presidente falou: Discurso moderado de Dilma é bem recebido em Nova York , Estratégico, tom de Dilma na ONU frustra militantes petistas ,  "Me julgo uma vítima", diz Dilma em coletiva para jornalistas brasileiros em Nova York .

Portanto, a imprensa do Brasil terá maior participação e presença no encontro de Nova Iorque, só que seu olhar estará voltado ao próprio umbigo.







quarta-feira, 6 de abril de 2016

Fonologia

O assunto desta postagem será o resumo sobre o artigo de Angel Corbera Mori no livro Introdução à Linguística (Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes). O capítulo de Angel é sobre Fonologia.

O linguista suíço Ferdinand de Saussure foi o primeiro a estabelecer que a linguagem humana compreendia dois aspectos fundamentais: a língua e a fala. Para ele, a língua é um produto social, presente na totalidade dos membros de uma comunidade linguística. A fala, por sua vez, é um fato individual, representa uma realização concreta da língua num momento e lugar determinados. Nesse sentido, segundo autor, o estudo da linguagem comporta duas partes: “uma, essencial, tem por objeto a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo, esse estudo é unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala, inclusive a fonação e é psicofísica”. 
A língua e a fala não ocorrem separadas, ambas são interdependentes, a língua é ao mesmo tempo instrumento e o produto da fala. Dessa forma, língua e fala constituem a linguagem humana: a língua representa o código comum de comunicação entre todos os membros de uma comunidade, e a fala é a materialização da língua em situação de uso de cada indivíduo dessa comunidade. 

Uma ciência está unida a outra: Significante, na fala, é estudado pela Fonética (articulatória e acusticamente). Significante, na língua, é estudado pela Fonologia. Fonologia estuda as diferenças fônicas correlacionadas com as diferenças de significados (Ex.: [p]ato / [g]ato).



Na Fonologia contribui-se para a “escrita” das línguas desconhecidas e sem tradição de escrita (muitas línguas ameríndias foram criadas com base nos princípios de análise fonológica apresentados por Pike – 1947). É uma área que também contribui no ensino das línguas estrangeiras (por meio de estratégias para transpor o sistema fônico da língua materna = no espanhol o /e/  fechado).

Fonologia tem foco nos fonemas: “toda língua possui um número restrito de sons cuja função é diferencial o significado de uma palavra em relação à outra. Os sons que exercem esse papel chamam-se fonemas e ocorrem em sequências sintagmáticas, combinando entre si de acordo com as regras fonológicas de cada língua”. Já os alofones ou variantes fonéticas são diferentes realizações fonéticas de um fonema (são os fonemas de uma língua que permitem diferenciar o significado das palavras).

Conclusão: o artigo sobre Fonologia busca abrir portas para novos estudos, mais avançados, e que permitam a compreensão mais aprofundada da teoria fonológica e das fonologias apresentadas pelas línguas particulares.

domingo, 27 de março de 2016

Fonética

Nossa próxima aventura no livro Introdução à Linguística, organizado pelas professoras Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes, será na área de Fonética. O capitulo foi escrito pelos professores GladisMassini-Cagliari e Luiz Carlos Cagliari.

Vamos tentar resumir o que eu entendi:

Fonética e Fonologia estudam o som da fala. Possuem o mesmo objeto de estudo. São ciências relacionadas, só que objeto de estudo é visto de pontos de vista diferentes, em cada caso. Enquanto a transcrição fonética dos segmentos é representada dentro de colchetes quadrados [] a transcrição fonológica (fonêmica) vem dentro de barras simples inclinadas //.

Fonética descreve os sons da fala – foneticista descreve que som [b] é articulado com uma corrente de ar pulmonar, egressiva com vibração das cordas vocais, com uma obstrução de fluxo de ar seguida de uma explosão.

Fonologia interpreta os resultados obtidos por meio da descrição (fonética) dos sons da fala – fonólogo explica o porquê de os falantes de alguns dialetos do português do Brasil considerarem como sendo o “mesmo som” as consoantes iniciais tapa e tia [t] e [ts] – tchê –, respectivamente, muito embora sejam muito diferentes, articulatória, acústica e perceptualmente.

Fonética pode ser feita sob três pontos de vista: Fonética Articulatória (maneira como os sons são produzidos (movimento do aparelho fonador na produção de sons da fala); Fonética Acústica (como sons são transmitidos, as propriedades físicas e acústicas do som que se propagam através do ar); Fonética Auditiva (como sons são percebidos pelos ouvintes).

Produção da fala – para falar, uma pessoa usa mais da metade do corpo: do abdômen até a cabeça. Envolve processo neurolinguístico, neuromuscular, processo de respiração, mecanismos aerodinâmicos implosivo, ejectivo, articulações fonéticas e processo articulatório.

O capítulo buscou mostrar: por trás dos sons da fala existem muito mais características fascinantes do que o nosso sistema alfabético ortográfico (consoantes e vogais) que se deixa entrever.

Os estudos de Fonética são indispensáveis para quem lida com os elementos sonoros da linguagem e, por essa razão, são importantes para a Medicina (fisiologia e cirurgias que envolvem membros do aparelho fonador), para a Fonoaudiologia (tratamento de distúrbios da fala), para a Engenharia de Telecomunicações (telefonia, aparelhos de sons), para a Ciência da Computação (produção e reconhecimento de fala), para as Artes Cênicas e Cinematográficas, e, é claro, para as Ciências da Linguagem. 

terça-feira, 15 de março de 2016

As culturas híbridas em Canclini

Concluí a primeira leitura do livro Culturas Híbridas de Néstor García Canclini. Para a área de comunicação, assim como de várias outras disciplinas, este é um livro essencial. Nele se discute a modernização dos países da América Latina, tendo em vista a nossa complexidade cultura e heterogeneidade. Como são vistos aqui o que é tradicional, moderno culturalmente e o desenvolvimento socioeconômico, o quanto houve de modernização em todos esses setores. Recomendo a leitura!

Mas o que me leva a esta postagem é mais a última folha do livro, da página 372:

Assim como a fragmentação privatizada do espaço urbano permite a uma minoria reduzir seu trato com "as massas", a organização segmentada e mercantil das comunicações especializa os consumo e distancia os extratos sociais. na medida em que diminui o papel do poder público como garantia da democratização informativa, da socialização de bens científicos e artísticos de interesse coletivo, esses bens deixam de ser acessíveis para a maioria. Quando a cultura deixa de ser assunto público, privatizam-se a informação e os recursos intelectuais nos quais se apoia parcialmente a administração do poder. E se o poder deixa de ser público, ou deixa de ser disputado como algo público, pode restaurar parcialmente sua verticalidade. Ainda que o princípio da expansão tecnológica e o pensamento pós-moderno contribuam para disseminá-lo, o desenvolvimento político o concentra. Quando essas transformações de fim de século não implicam democratização política e cultural, a obliquidade que propiciam no poder urbano e tecnológico se torna, mais que dispersão pluralista, hermetismo e discriminação.
Assim, este livro não termina com uma conclusão, mas com uma conjectura. Suspeito que o pensamento sobre a democratização e a inovação caminhará nos anos 90 nesses dois trilhos que acabamos de atravessar: a reconstrução não substancialista de uma crítica social e o questionamento das pretensões do neoliberalismo tecnocrático de converter-se em dogma da modernidade. Trata-se de averiguar, nessas duas vertentes, como ser radical sem ser fundamentalista.

Fica, portanto, registrado o grande questionamento que me faço... como? " como ser radical sem ser fundamentalista."?

Néstor García Canclini é antropólogo argentino e radicado no México (ele é professor naquele país desde os anos 90). Estudou Filosofia na Argentina e concluiu seu doutorada em Paris no ano de 1978. Estão entre seus livros:
  • Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade (Edusp – 416 págs.)
  • A Globalização Imaginada (Editora Iluminuras – 223 págs.)
  • Consumidores e Cidadãos (Editora UFRJ 227 págs.)
  • Diferentes, desiguais e desconectados (Editora UFRJ 283 págs.)

Quer saber mais sobre este autor que "é considerado um dos maiores investigadores em comunicação, cultura e sociologia da América Latina; é um estudioso da globalização e das mudanças culturas na América Latina; e o foco de seu trabalho é justamente esse: a pós-modernidade e a cultura a partir do ponto de vista latino-americano" acesse a página Aulas de Comunicação.


Na página da Edusp há uma entrevista muito interessante com o professor. Em que se discute, por exemplo,  conceitos como de interculturalidade e de hibridação:

Hibridação designa um conjunto de processos de intercâmbios e mesclas de culturas, ou entre formas culturais. Pode incluir a mestiçagem – racial ou étnica –, o sincretismo religioso e outras formas de fusão de culturas, como a fusão musical. Historicamente, sempre ocorreu hibridação, na medida em que há contato entre culturas e uma toma emprestados elementos das outras. No mundo contemporâneo, o incremento de viagens, de relações entre as culturas e as indústrias audiovisuais, as migrações e outros processos fomentam o maior acesso de certas culturas aos repertórios de outras. Em muitos casos essa relação não é só de enriquecimento, ou de apropriação pacífica, mas conflitiva. Fala-se muito, nos último anos, de “choque” entre as culturas. Em todo esse contexto vemos que os processos de hibridação são uma das modalidades de interculturalidade, mas a noção de interculturalidade é mais abrangente, inclui outras relações entre as culturas, intercâmbios às vezes conflitivos. (Canclini)


Outra fala interessante de Canclini no site da Editora é:

Historicamente, as fronteiras são identificadas com os territórios étnicos ou nacionais, tomando forma de barreiras físicas, aduanas, controles de trânsito das pessoas ou produtos. No século XX, tudo isso se tornou muito mais complexo, pelo aumento da circulação de pessoas, das migrações, das viagens de turismo, pelo crescimento da circulação de produtos, que passam de uma nação a outra, e por vezes nem se sabe onde são produzidos, ou são produzidos em vários lugares e se montam em outro. Também as mensagens circulam mais livremente desde que existem satélites, computadores, Internet, e podemos passar com facilidade mensagens de uma nação a outra, de uma língua a muitas outras, tornando inúteis muitas fronteiras. O que chamamos de globalização, um conjunto complexo de processos de interdependência que supera o econômico, o tecnológico e o cultural, cria muito mais que um multiculturalismo, porque a multiculturalidade tendia a designar a coexistência de grupos diferentes em uma mesma sociedade, às vezes numa mesma cidade. Em escala internacional, vemos nas guerras atuais que a multiculturalidade não é respeitada pela invasão de uma nação por outra, que em parte implicam na derrubada de fronteiras ou na construção de outras. Como as que existem entre México e Estados Unidos, entre Israel e Palestina etc. Essa proliferação de fronteiras nas sociedades contemporâneas nem sempre é resultado de uma atitude defensiva e hostil ao estrangeiro. Implica às vezes na dificuldade de assumir a interculturalidade. Quer dizer, aceitar que a sociedade em que vivemos se modifica pela presença de outros modos de vida, outras religiões, outras línguas. (Canclini)

domingo, 13 de março de 2016

Linguística Histórica

No post de hoje vamos ao tema Liguística Histórica, conforme capítulo escrito por Nilson Gabas Jr. no livro Introdução à Linguística (Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes – organizadoras).

O professor Nilson Gabas Junior concluiu o doutorado em Linguística na University of California, em 1999. E de acordo com o resumo no Currículo Lattes:

Fez pós-doutorado na Universidade de Antuérpia, Bélgica, em 2002. Atualmente é o diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, Pará. É membro de diversos conselhos e entidades ligadas à sociobiodiversidade, no estado do Pará e no Brasil. Publicou artigos em periódicos especializados e trabalhos em anais de eventos. Possui capítulos de livros e livros publicados, e participou de diversos eventos científicos no exterior e no brasil. Atualmente participa de 4 projetos de pesquisa, sendo que coordena 2 destes. Atua na área de Linguística Indígena, e em suas atividades profissionais interagiu com 14 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Em seu Currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção cientifica, tecnológica e artístico-cultural são: karo, tupi, fonologia, classificação genética, gramatica, ideofones, fonética, léxico, linguística histórica e classificadores.

No livro, Gabas Jr. Inicia mostrando que a Linguística Histórica estuda os processos de mudança das línguas no tempo = Latim, Grego e Sânscrito derivam da extinta língua protoindo-europeia.

O capítulo está dividido em três seções, incluindo o histórico da disciplina (com um panorama de como se desenvolveu esse ramo da Linguística e sua importância), os tipos de mudanças possíveis de ocorrer nas línguas (diversas modalidades de mudanças de som, processos de analogia, mudanças gramaticais e semânticas) e, por último, explica-se a classificação genética entre línguas.

Início da Linguística Histórica e Comparativa: já se notava a semelhança aparente entre línguas distintas. No final do séc. XVIII, Sir Willian Jones (juiz inglês na Índia) propõe que latim, grego e sânscrito eram aparentadas entre si. Também contribuíram no estudo da Linguística Histórica: Rasmus Rask e Karl Verner (Dinamarca), Jacob Grimm (Alemanha). Linguística Histórica se firma como ciência – há rigidez científica nos postulados dos estudos comparativos das línguas indo-europeias.

Lei de Grimm (ou mudanças de som): Rask descobriu e Grimm aperfeiçoou analiticamente. Serviu de base para outros pesquisadores comprovarem mudanças de som em outras línguas do mundo, exemplo de sua observação nas alterações fonéticas: consoantes oclusivas surdas do protoindo-europeu passaram a ser nas línguas germânicas (alemão, inglês, dinamarquês, holandês, etc.) fricativas surdas. As consoantes oclusivas sonoras passaram a oclusivas surdas...

Na evolução desses estudos (pois se descobriu depois que alguns sons na verdade foram emprestados do grego), Karl Verner propõe que uma mudança fonológica teria ocorrido, posteriormente, às mudanças de som propostas por Grimm (Lei de Verner).
Neogramáticos x Difusionistas:

A controvérsia entre os neogramáticos e os defensores da difusão lexical gira em torno de dois pares de termos: som e palavra, de um lado, e gradual e abrupto, de outro. Assim, para os neogramáticos a mudança fonológica é foneticamente gradual, mas lexicamente abrupta; para os “difusionistas”, a mudança fonológica é, ao contrário, foneticamente abrupta, mas lexicamente gradual.

Neogramáticos: Alemanha, grupo (ou escola) da Universidade Leipzip. Eram contra o método vigente na comparação linguística, porque estes se baseavam na língua falada. Apregoavam o princípio da não excepcionalidade das regras de mudança do som e o princípio da analogia. Nortearam os trabalhos em Linguística Comparativa até meados do século XX, quando surge a teoria da difusão lexical.

Difusionistas: Nasce com Wang (1969), em oposição aos neogramáticos. Controvérsia entre eles é resolvida por Labov (1981) = leis da mudança de som não são tão poderosas quanto preconizadas pelos neogramáticos. Em inúmeros casos elas ocorrem lenta e gradualmente, obedecendo à história de cada palavra, de acordo com os preceitos da teoria da difusão lexical.

Mudança linguística: toda língua do mundo está em constante processo de mudança. Falantes não estão necessariamente conscientes dessas mudanças. As mudanças são lentas e graduais. São parciais (envolvem apenas parte do sistema linguístico). Sofrem influência de uma força oposta, a de preservação da intercompreensão. Mudanças podem ocorrer no nível fonético-fonológico (dos sons) até o nível semântico (do significado). Processos de mudança de som são conhecidos como metaplasmos.
Mudança de som: principal mecanismo de mudança linguística;
Provém de variação linguística não distintiva (uso de um ou outro som não implica diferenças de significados, mas de status social e outros); É antieconômico para falantes manterem duas variantes de uma mesma palavra, a tendência é que apenas uma sobreviva; Mudanças podem ser de perda ou adição de fonemas, assimilação, dissimilação, duração (ou prolongamento) e metátese. 

Um dos propósitos da Linguística Histórica é a classificação genética entre línguas e sua reconstrução. A classificação genética é o processo pelo qual línguas distintas são agrupadas em uma dada classe, por semelhanças e ascendências genéticas. O meio mais utilizado para expressar esse relacionamento genético entre línguas é o diagrama em árvore:

Estudos mostram que o grau de profundidade temporal de um tronco linguístico (formado por uma ou mais famílias linguísticas) varia de cinco a seis mil anos, e o de uma família linguística (possui uma ou mais línguas-irmãs) varia de dois a quatro mil anos. Existem ainda as línguas isoladas, não pertencendo a grupos linguísticos (Basco na Espanha e Kaioá ou Kwazá e o Aikanã em Rondônia).

Reconstrução linguística – uma vez determinado o parentesco genético entre duas ou mais línguas, o passo seguinte é o da reconstrução da língua-mãe, com a descrição mais completa possível das mudanças que se sucedem, e que resultaram nos seus descendentes. O trabalho de reconstrução de uma língua somente estará terminado quando, além da reconstrução, também forem cumpridas as etapas de reconstrução morfológica e sintática, para as quais são utilizados procedimentos gerais de análise e levantamento de hipóteses como os observados na reconstrução fonológica.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Redação

Para quem precisa escrever todos os dias é necessário também sempre se atentar a novas maneiras de colocar no papel o que se pensa. Por isso, resolvi procurar por dicas - e deixar aqui registrado. A prática da escrita pode ser muito útil, mas sozinha pode ser um perigo (como vou saber se estou escrevendo bem, e não repetindo velhos erros, se eu não fizer nenhum comparativo com outros textos?). 

E a primeira grande dica que vi em outros sites foi: LEIA, leia mais!!!

Como dito no site Mundo Educação, transcrevo (acredito muito nisso):

É um mandato, uma ordem! Não...é um conselho, mas concordo que parece mais com um eco, que ressoa no ambiente e volta à mente por algumas vezes: leia...leia...leia...
Mas não tem jeito, ou melhor, tem sim, o jeito é ler!
Quando você lê, adquire vocabulário e, portanto, a escrita se torna mais fácil, pois terá mais opções de palavras ao escrever. Consequentemente, seu texto se tornará de fácil leitura, pois não terá termos ou idéias repetidas.

A questão da prática da escrita (que não apenas para trabalho) foi sempre o objetivo deste blog. O que tenho aliado aos meus estudos em geral. Como me é agradável e útil, recomendo aos demais interessados em também melhorar sua escrita, e escrever bem (pode ser um diário, ou o que ajudar a colocar ideias no papel). Olha o que diz o InfoEscola: "Escreva sobre coisas que gosta".

Uma maneira muito divertida e leve de exercitar a escrita é escrevendo sobre o que gosta. Seja sobre o seu dia-a-dia, sua banda preferida ou sua série de ficção favorita. Antes de partir para o treino das redações de vestibular ou tentar escrever um artigo científico, exercite a sua escrita descompromissadamente. O ato de escrever se aprimora como qualquer outra atividade: com bastante treino você escreverá cada vez melhor.

E assim como diz o livro "151 dicas essenciais para gerenciar seu tempo", de Robert E. Dittemer (vamos pegar algo de outra área e aplicar à nossa escrita!):

Não perca tempo tentando encontrar objetos. Coloque tudo em seu devido lugar e guarde aquilo que, mais tarde, pode lhe custar tempo para encontrar. 

Eu também gosto dos rascunhos, vivo fazendo isso. Por outro lado, como continua o livro: "implante hoje mesmo a política de se desfazer de rascunhos. Livre-se deles assim que sua versão final for utilizada ou aprovada". É aquela história de planejamento, ter essa primeira versão ajuda a transformar aquelas ideias abstratas em texto. Rascunhar é muito importante mesmo, mas depois de passar a limpos, pode descartá-los.

Sempre que me pedem algumas sobre como escrever melhor, eu penso que não sou a pessoa mais indicada para ensinar. Aprendi escrever escrevendo, errando e melhorando. E ainda tenho muito o que aprender, mas já adquiri mais facilidade hoje em dia se comparado à época do vestibular (por exemplo). E tendo em vista que "não só é preciso ler, como é preciso fazê-lo de maneira inteligente", vamos a outra dica que encontrei no site Imaginie, algo que pode ser muito útil para todos nós (só adaptar à nossa realidade/necessidade):

 
Praticar provas de redação, fazer reescrita de propostas textuais antigas, estudar técnicas de linguagem, melhorar o conhecimento gramatical são todos exemplos de atividades que irão ajudar o candidato a construir sua capacidade de desenvolver bem uma ideia e desenvolver seu estilo de escrita. Ter um repertório mental de exemplos de como escrever bem é a chave para se produzir textos próprios sem muita dificuldade. 


Antes de concluir, que tal rir um pouco, tem um texto do Guia do Estudante que relembra as dicas "infalíveis" para escrever bem. Coisas do tipo "deve-se evitar ao máx. a utiliz. de abrev. etc." e que "é desnecessário empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico." E ainda que"'Porra', palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa 'merda'".


“Um raciocínio lógico leva você de A a B. Porém, a imaginação, leva você a qualquer lugar que você quiser”.
Albert Einstein

Agora, ao terminar o texto e antes de divulgá-lo, é necessário fazer as correções. Aí a indicação é este texto da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) sobre a "Edição de texto para repórteres: como acertar no básico". Por exemplo, uma das dicas é que apesar dos editores de texto terem abordagens diferentes, cada um pode desenvolver suas próprias táticas. "Verifique afirmações factuais em seu artigo. Verifique cada nome duas vezes, mesmo se você achar que está correto. Se utilizar um número ou data, não importa o quão  insignificante ele seja, verifique". Ou "Faça uma leitura completa da história, do começo ao fim. O texto flui com facilidade e lógica? As conclusões são sustentadas pelos fatos apresentados? Como leitor, a história te deixa fazendo perguntas que não puderam ser respondidas? Você utiliza termos técnicos que não são esclarecidos ou jargões que não são explicados? Há sentenças que são corridas e se atropelam ou palavras que vocês utiliza com muita frequência? Preste atenção nesses problemas."

segunda-feira, 7 de março de 2016

Sociolinguística 2

A segunda parte do tema Sociolinguística no livro Introdução à Linguística (Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes)  temos o texto do professor Roberto Gomes Camacho.

Camacho é pesquisador do Departamento de Teoria Linguística e Literária do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da UNESP, Campus São José do Rio Preto. Mestre em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas e Doutor em Letras pela Universidade Estadual Paulista, Campus Araraquara. Pós-doutor pela Universidade de Amsterdã e livre-docente pela UNESP, Campus São José do Rio Preto.

No livro, Roberto Gomes Camacho inicia mostrando que a linguística moderna e estruturalista surgem com a publicação do Curso de Linguística Geral. Nele Saussure trazia a alegação de que língua é a parte social da linguagem. Há separação entre sistema e discurso. Proposições mantidas (e aprofundadas) por pesquisadores de escolas distintas (Leonard Bloomfiel, Louis Hjelmlev, Noam Chomsky). Mas como alega Calvet (2002): “as línguas não existem sem as pessoas que as falam, e a história de uma língua é a história de seus falantes”.  Estruturalismo, portanto, não levou em conta o que a língua tinha de social.

A Linguística Estruturalista não levou seriamente em consideração a análise de variações porque não levava em conta a função das variações no processo de comunicação. A linguagem é vista como um instrumento de comunicação, espécie de código, similar aos sistemas de sinais eletrônicos (o que a linguagem humana não é).

Assim como o estruturalismo, o gerativismo também não valorizava esse lado “social” da língua. Assim, a Sociolinguística nasceu com visão crítica à gramática gerativa de Chomsky, que estava se impondo como paradigma dominante.

Desde seu início, década de 60, Sociolinguística se interessa por uma variedade de assunto: 1-Sociolinguística da Linguagem (Joshua Fishman) – era um ramo das ciências sociais, na medida em que encarava os sistemas linguísticos como instrumentais em relação às instituições sociais mais amplas; 2-Etnografia da Comunicação – hoje entre outros está a Análise da Conversação e Sociolinguística Interacional (Hymes, Sacks, Gumperz); 3-Sociolinguística Variacionista (William Labov): trata do exame da linguagem no contexto social como solução dos problemas próprios da teoria da linguagem.

Nesta última tendência verifica-se que dois falantes de uma mesma língua (ou mesmo um único falante) dificilmente se expressam de modo idêntico ou sempre do mesmo modo (está relacionado ao linguístico e social, a exemplo de “levaram”, “levaru”, “levarum”. Há uso sistemático (e não arbitrário) e regular de uma propriedade inerente aos sistemas linguísticos que é a possibilidade de variação, entendida como heterogeneidade constitutiva da linguagem (“cê leu os livros?”, “cê leu os livro?”). Variação de ausência ou presença do sinal sonoro do fonema /S/. O mesmo não se nota, praticamente, em “ananás” e “arroz”. E isso advém do próprio sistema linguístico:

Selecionar uma palavra com ausência de uma fricativa alveolar depende de estar esse segmento numa sílaba átona final, como em “livros”, “meninos”, “Marcos”. Já o simples fato de incidir sobre uma sílaba tônica, como em “ananás”, praticamente elimina a possibilidade de variação entre [s] e [Ø] numa variedade dialetal como a paulista, embora esse contexto seja favorável a um processo de ditongação antes da fricativa alveolar, o que forneceria casos como “ananais”, “arroiz”, etc.

Variação – resultado sistemático e regular de restrições impostas pelo próprio sistema linguístico. Diversidade é uma propriedade funcional e inerente dos sistemas linguísticos. O papel da Sociolinguística é exatamente enfocá-la como objeto de estudo, em suas determinações linguísticas e não-linguísticas. A linguagem é o modo mais característico de comportamento social, sendo impossível separá-la de suas funções sociointeracionais.

No Brasil, está em curso o projeto do Atlas Linguístico, que  é um retrato que inicia o debate se há separação social ou geográfica quando se trata de língua: “Esse retrato permitiria confirmar ou rejeitar a hipótese de que as divisões dialetais no Brasil são menos geográficas que sociais e que a maneira de falar distinguiria mais um falante escolarizado de um não escolarizado do mesmo espaço geográfico, do que dois falantes do mesmo nível de escolaridade de regiões diferentes”.

Sobre a variante de prestígio/padrão/não-padrão/estigmatizada, o livro traz debate com a teoria do professor Carlos Alberto Faraco, que se refere à norma “curta” está descrita pelos consultórios gramaticais, manuais de redação dos grandes jornais e elaboradores de concursos públicos. Uma vez que desde a origem deste padrão brasileiro não se adotou a normal culta comum, mas houve imposição da elite conservadora o modelo praticado em Portugal, com base nos escritores portugueses do romantismo.

A Sociolinguística e o ensino da língua materna: A natureza discriminatória que a linguagem pode assumir leva à reflexão sobre a questão que mais nos afeta – em que grau o processo de ensino da língua materna contribui para o agravamento ou para a simples manutenção da situação de exclusão a que está sujeita a população socialmente marginalizada? Dentro da tradição pedagógica, na prática de quem educa, há apenas uma língua = correta e eficaz para todas as circunstâncias de interação (norma padrão).

Contrariando a Linguística em seus princípios, a pedagogia da língua materna elege o correto e o incorreto sua dicotomia predileta para discriminar/selecionar. Norma padrão (referencial exclusivo, ensinada na escola) x dialeto social que o aprendiz domina. Tendo em vista que a seleção é arbitrária, porque como ensina Bourdieu e Pesskon (1975) se baseia nas relações de força entre grupos sociais. A instituição não reconhece a legitimidade da variação linguística e acaba por submetê-la ao critério de correção. O resultado prático é a evasão escolar! Impor com exclusividade a norma padrão, misturar uma pitada de intolerância para com a variedade que as crianças dominam são o ingrediente de uma receita infalível que se resume na rejeição à língua e no desenvolvimento de um processo de insegurança linguística.

Sociolinguística tenta: eliminar preconceitos (todas as línguas e variedades de uma língua são igualmente complexas e eficientes para exercício de todas as funções a que se destinam); superar o pressuposto de que a principal tarefa do ensino é substituir formas das variedades populares por formas da norma padrão; manter como alternativa fundamental que as variações da língua não devem passar por um crivo valorativo; atualizar constantemente a norma padrão (substituir prescrições ultrapassadas – de base escrita e literária – por normas emanadas da variedade culta urbana); despertar a consciência do aluno para adequação das formas de circunstâncias do processo de comunicação; acreditar no modelo da comunicação diferente e adotar outra estratégia para ensino da língua materna. 

domingo, 6 de março de 2016

Questionar, questionar

Li na manhã hoje no livro A. C. Grayling, “A arte de questionar - a filosofia do dia a dia”, a seguinte provocação: “O que a palavra ‘deus’ significa para você?”

Calma, não vou falar de religião, vou é falar de sentidos de palavra, de discursos. Mas primeiro, vamos ao texto do autor. Para iniciar ele se questiona sobre o significado de “deus” e o que considera incoerente, ou seja, os usos mais convenientes e com objetivos diversos de acordo com apologias religiosas distintas.

Porém a palavra traz à mente o fenômeno das religiões criado pelo homem, cujo efeito na humanidade, tanto agora quanto ao longo do tempo, tem sido, com uma margem considerável, negativo. Bastaria pensar na falsidade ideológica e nas consequentes distorções de comportamento acarretadas pela ideia de que existem agentes sobrenaturais que criaram este mundo tão imperfeito e que eles têm um interesse em nós que abrange até nossa vida sexual e o que devemos ou não comer ou vestir em certos dias.

Grayling continua o texto expondo conflitos e crueldades feitas em nome de ‘deus’:

Em seu nome, foram cometidos crimes que não teriam sido perpetrados por nenhum outro motivo: o assassinato daqueles que “blasfemam” ou são “heréticos” (ou seja, que discordam dos que estão no comando naquele momento), que “profanam” objetos e textos considerados sagrados (durante o momento em que escrevo, vários cristãos paquistaneses foram assassinados por terem supostamente maltratado uma cópia do Alcorão) – e assim por diante.

Como última citação do autor neste texto, transcrevo sua análise sobre ideologias monolíticas:

(...) Ao que respondo: todas as ideologias monolíticas, que afirmam possuir a única grande verdade e exigem que todos se submetam a ela sob pena de sofrimento, com seus profetas, devoções, lemas e vacas sagradas, agem da mesma maneira quando têm a oportunidade de mostrar seus extremismos naturais – que é exatamente a objeção à religião. 
As doutrinas básicas das principais religiões têm suas raízes nas superstições e fantasias de camponeses analfabetos que viveram há milhares de anos. É surpreendente que essas crendices, sob a forma parcial de versões sofísticas posteriores, continuem a ter alguma credibilidade. O motivo disso é a proselitização dos muitos jovens, a institucionalização de seitas religiosas e certos fatores psicológicos. 

Em alguns pontos concordo e em outros discordo. Mas isso não vem ao caso. Fiquei refletindo sobre esse texto e vendo o quanto ele se parece com estes dias de briga entre “petralhas” e “tucanalhas”, como se alfinetam ambos os lados. Impondo visões unitárias, estereotipadas e ideológicas excludentes. E os eleitores, a população em geral, são conduzidas ora para um lado e ora para outro. Quem falar mais bonito, desconstruir melhor a imagem do outro, ficará em vantagem (eleitoral, diga-se de passagem).

Assim como o filósofo tem suas ideologias, eu também tenho as minhas (no caso ainda defendo parte das ações de Lula ou Dilma, porque no geral vejo uma luta de classes no atual cenário político brasileiro, apesar da minha certeza de que não se mudará o mundo por meio de votação neste ou naquele candidato). Sem pregar discurso de ódio, observo muita movimentação em muitos dos lados, mas exatamente daqueles que vejo que poderia surgir uma terceira via não há movimentação. Ah, se o povo, se os excluídos, deixassem essas “superstições e fantasias” construídas durante toda uma história (do Brasil, da humanidade...) e tornassem autônomos e responsáveis por suas vidas (política, econômica, social e culturalmente)... como seria bom!! Quem sabe, como finalizou o filósofo: “Na verdade, uma vez que esse detrito de nosso passado ignorante for eliminado, talvez consigamos ver mais claramente a natureza do bem e finalmente persegui-lo da forma correta”.

Só para encerrar, vejamos quem é o autor da Arte de Questionar (afinal, para nós jornalistas saber perguntar/questionar é imprescindível):

Segundo a Wikipédia, Anthony Clifford "A. C." Grayling nasceu em 03 de abril de 1949. O filósofo britânico fundou em 2011 o New College of the Humanities, uma faculdade de graduação independente de Londres. Até junho de 2011, ele foi professor de Filosofia de Birkbeck, na Universidade de Londres, onde ensinou desde 1991. Ele também é membro supranumerário do Colégio de Santa Ana, Oxford.

Na contracapa de seu livro, uma citação do The Gardian mostra que “A. C. Grayling é um filósofo que acredita naquilo que prega e cria valor para a vida de uma forma completamente descomplicada”. Já na Booklist diz-se que “diferente de outros filósofos acadêmicos, A. C. Grayling se importa demais com a filosofia para mantê-la em sala de aula. De fato, ao aplicar o hábito de pensar os problemas da vida cotidiana, ele abre horizontes significativos”.







sexta-feira, 4 de março de 2016

Sociolinguística

Continuando a leitura do livro Introdução à Linguística (Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes)...

Agora chegamos ao primeiro campo teórico: Sociolinguística. Esta é a parte 1, escrita pela professora Tânia Maria Alkmin, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)/Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).

No início do texto, veremos que o linguista alemão Augusto Schleicher foi uma forte influência no séc. XIX, com uma orientação biologizante. Seus ensinamentos buscavam tornar o estudo da linguagem uma ciência rigorosa, colocar a Linguística no campo das ciências naturais, afastamento de toda consideração de ordem social e cultural. Linguagem e sociedade, portanto, não assumida como determinante.

Já Ferdinand Saussure (Curso de Linguística Geral – 1916) define a língua, por oposição à fala, como objeto central da Linguística (séc. XX): da fala se ocupará a Estilística ou a Linguística Externa; a Linguística descreverá o sistema formal, a língua; sistema/língua é um fato social, uma faculdade natural que permite ao homem construir uma língua; caráter formal e estrutural do fenômeno linguístico.

É a partir dos anos 30 que se começa a relacionar mais linguagem e sociedade (Antoine Meillet, Baktin, Marcel Cohen, Émile Benveniste e Roman Jakobson). Exemplo de Bakhtin (1929) que faz crítica radical à postura saussuriana de “separar” a linguística interna/externa.

A verdadeira  substância  da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação e das enunciações . A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. 

O termo Sociolinguística surge em 1964, em Congresso realizado em Los Angeles. Os trabalhos foram publicados dois anos depois com o título Sociolinguistics:  variações linguísticas, diferentes estruturas sociais e diversidade linguística.  Vejamos alguns fatores que para um dos fundadores da Sociolinguística, William Bright, estão ligados à diversidade linguística:
Identidade social do emissor ou falante – relevante, por exemplo, no estudo dos dialetos de classes sociais e das diferenças entre falas femininas e masculinas;
Identidade social do receptor ou ouvinte – relevante, por exemplo, no estudo das formas de tratamento, da babytalk (fala utilizada por adultos para se dirigirem aos bebês); O contexto social – relevante, por exemplo, no estudo das diferenças entre a forma e estilos, formal e informal, existentes na grande maioria das línguas; O julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio comportamento linguístico e sobre o dos outros, isto é, as atitudes linguísticas. 
Contexto do surgimento da Sociolinguística: como crítica ao formalismo, representado pela gramática de Chomsky, assim é que se vai definindo essa área voltada explicitamente para o tratamento do fenômeno linguístico no contexto social no interior da Linguística.

Houve atuação de linguistas e de estudiosos de campos das ciências sociais e da linguagem articulada com aspectos de ordem social e cultural. Em 1962, Hymes publica artigo e propõe o que se torna a Etnografia da Comunicação, com questionamentos sobre o comportamento adequado para mulheres/homens/crianças na comunidade  “x”. Um ano depois, Labov (EUA) sublinha o papel decisivo dos fatores sociais na explicação da variação linguística (idade, sexo, ocupação, origem étnica e atitude). Surgem, assim, pesquisas voltadas para as minorias linguísticas (imigrantes, porto-riquenhos, italianos...).

Objeto da sociolinguística: estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Ao estudar qualquer comunidade linguística, vê-se a existência da diversidade ou da variação (diferentes modos de falar). Variedades linguísticas = repertório verbal. Nenhuma língua se apresenta como uma unidade homogênea. Para a Sociolinguística isso não é um problema, mas uma qualidade construtiva do fenômeno linguístico.

Os falantes adquirem as variedades linguísticas próprias de sua região (variação geográfica = diatrópica) e sua classe social (variação social = diastrática) que inclui classe social, idade, sexo, situação ou contexto social. Existência de variedades de prestígio e as não prestigiadas, sendo que nas sociedades ocidentais existe a variedade “padrão” (normal culta ou língua culta). Esta não é, por excelência, a língua original, mas é resultado de uma atitude social  ante a língua. Estabelecimento do modo “correto” de falar, o que está ligado às altas classes sociais/dominantes. A padronização é historicamente definida: o que é padrão hoje pode tornar-se não padrão amanhã.

Os julgamentos são de natureza política e social (e não linguística). Não julgamos a fala, mas o falante e sua inserção na estrutura social (porta/não aceito e car/aceito!!!). E sobre as chamadas línguas “simples, inferiores, primitivas”:
Toda língua é adequada à comunidade que a utiliza, é um sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo físico e simbólico em que vive. É absolutamente impróprio dizer que há línguas pobres em vocabulário. Não existem também sistemas gramaticais imperfeitos.

A homogeneidade linguística é um mito, que pode ter consequências graves na vida social. Pensar que a diferença linguística é um mal a ser erradicado justifica a prática da exclusão e do bloqueio  ao acesso a bens sociais.