Minha mãe interpretava o significado das ações a partir de um dicionário diferente daquele utilizado pela maioria de nós e com regras de gramática específicas. As interpretações se tornaram para ela automáticas, não conscientes. Assim como todos entendemos a linguagem falada sem qualquer aplicação consciente de regras de linguística, minha mãe entendia as mensagens do mundo sem qualquer consciência de que suas experiências anteriores tinham moldado suas expectativas para sempre.
A passagem acima é do livro Subliminar: Como o inconsciente influencia nossas vidas, de Leonard Mlodinow. Ao clicar aqui tem uma resenha sobre o livro, e caso se interesse em depois fazer a leitura do livro, é uma boa pedida.
Quando li esse trecho de Subliminar me acionou na memória a ideia da teoria gerativista, também norte-americana, e que tentava colocar no papel a "gramática internalizada" que temos conosco.
Pode-se dizer que a Gramática Gerativa nasceu em 1957, quando Chomsky lançou seu livro Syntact Structures, inaugurando uma perspectiva mais naturalista dos estudos sobre a linguagem. A Teoria Gerativa é, portanto, uma teoria que se propõe a estudar a linguagem levando em conta as propriedades da mente humana e a relação destas com a organização biológica da espécie.
Com base no pressuposto de que a linguagem é um sistema de conhecimentos inatos, portanto geneticamente determinado, inconsciente e modular, a Teoria Gerativa define seu programa de investigação tentando responder a algumas perguntas, dentre as quais:(1) Como a gramática mental de um indivíduo é representada em sua mente, isto é, o que há na mente de um falante que lhe permite produzir ou compreender sentenças de sua língua?(2) Como o conhecimento da linguagem é adquirido e quais conhecimentos uma criança tem quando do início do processo de aquisição da linguagem?(3) Como um indivíduo põe seu conhecimento lingüístico em uso?(4) Como é que as propriedades relacionadas à linguagem se realizam nos mecanismos do cérebro?
No modelo gerativista:
Seguindo uma tendência Inatista e, por sua vez Racionalista, o modelo gerativista se propõe explicar as manifestações da aquisição de linguagem partindo do principio de que a criança já nasce dotada de ”... uma capacidade inata de aquisição da linguagem”. Nessa abordagem a aquisição de uma língua materna é o resultado direto do amadurecimento dessa criança, ou seja, uma conseqüência de sua capacidade de formular suposições, respostas às questões que lhe surgem e de procurar e encontrar algumas semelhanças presentes na língua a ser adquirida.
O gerativismo que nasce com Noam Chomsky na segunda metade do século XX reabilita o inatismo cartesiano e romântico e propõe uma gramática universal que vise explicar o funcionamento das estruturas linguísticas, da aquisição e a capacidade de uso da língua através do estudo das faculdades mentais.
Não concordo muito, porque para mim Saussure é ainda muito importante na formação da linguística como ciência, mas segue trecho da Revista Super Interessante que é um complemento sobre Chomsky:
Linguística é o estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas e da história desses idiomas. Quando Chomsky apareceu no cenário intelectual, esse ramo da ciência tinha vivido poucos avanços significativos. Para falar a verdade, dois. O primeiro foi a criação da tradição clássica, originada no mundo grego, que perdurou até o final do século 19. O segundo salto foi o estruturalismo, criado pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913).
O Inatismo, hipótese abordado por Noam Chomsky, defende que o ser humano é provido de uma gramática inata, ou seja, esta já nasce com a pessoa, e vai tomando forma conforme o seu desenvolvimento. E a criança toma como base para seu desenvolvimento a fala dos adultos, que servem de estrutura para o desenvolvimento de suas próprias regras. A partir do momento que a criança incorpora como modelo algumas estruturas da língua mãe, não é porque imitou, mas por que incorporou novos modelos de regras para sua língua.
No gerativismo, o principal teórico é o linguista Noam Chomsky.
(...)
Usando esse argumento Chomsky faz valer a sua teoria comprovando que a capacidade linguística está inscrita no código genético do ser humano e que a criança necessita apenas de um certo “empurrãozinho” para desenvolver a gramática especifica que é a sua gramática nativa.
Quem é Noam Chomsky?
Noam Chomsky (1928) é professor e ativista político norte-americano. Tornou-se conhecido por suas críticas contra a política externa americana. É professor do Massachusetts Institute of Technology. Desenvolveu uma teoria que revolucionou o estudo da linguística.
Chomsky é considerado o fundador da gramática generativa-transformacional, que a seu entender constitui a base para o desenvolvimento de uma gramática comum a todos os idiomas. Seus estudos fundamentam-se na tese de que todos os seres humanos nascem detentores de um conjunto determinado de conhecimentos do idioma universal, constituindo estes a "estrutura profunda" da língua.
E já que iniciei com o livro Subliminar, vou fechar o post-registro com ele! Porque essa história de influência do inconsciente nas nossas vidas para mim é muito forte. E a memória é um pouco de tudo isso que nos constitui, tendo ou não uma gramática dentro da gente. Somos um pouco de cada vivência que consciente ou inconscientemente passamos.
Nosso cérebro usa o mesmo truque na memória. Se você tivesse projetando o sistema da memória humana, provavelmente não teria escolhido um processo que descartasse dados a granel e depois, quando precisasse recuperá-los, inventasse as coisas. Mas, para a grande maioria de nós, o método funciona bem na maior parte do tempo. Nossa espécie não teria sobrevivido não fosse isso. Por meio da evolução, a perfeição pode ser abandonada para chegar à aptidão necessária. A lição que isso me ensina é de humildade e gratidão. Humildade porque qualquer confiança que eu possa sentir em relação a alguma memória específica pode estar deslocada; e gratidão pelas memórias que retenho e pela capacidade de não reter todas elas. A memória e a percepção conscientes realizam seus milagres com uma forte dependência do inconsciente.
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