domingo, 19 de junho de 2016

Sintaxe

Escrito por Rosane Andrade Berlinck, Marina R. A. Augusto e Ana Paula Scher, o capítulo sobre Sintaxe do livro Introdução à Linguística (Orgs.Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes) é o estudo do post de hoje.

Primeiro, o que significa mesmo sintaxe?
Do grego syntaxis = ordem, disposição
Esta é a parte da gramática que descreve o modo como as palavras são combinadas para compor sentenças. Seu nascimento vem com o livro de John Ries (1894) com o título O que é Sintaxe? No início do século XIX os estudos linguísticos se interessam pelos fenômenos fonéticos e morfológicos. É com Saussure se torna uma disciplina autônoma.

Sintaxe estuda as SENTENÇAS: do ponto de vista formal (Formalismo) e do ponto de vista das suas funções (Funcionalismo).  As das abordagens não correspondem a teorias particulares, mas cada uma está ligada a vários modelos teóricos que, diferindo em certos aspectos, apresentam pontos essenciais em comum. Na verdade não são opostas, mas complementares.

Visão formalista (estudo das características internas da língua): “se dedica a questões relacionadas à estrutura linguística, sem se voltar especialmente para as relações entre a língua e o contexto (situação comunicativa) em que se insere”. Busca explicar a estruturação sintático/formal de cada sistema linguístico (posição SVO: sujeito, verbo e objeto). Pela teoria gerativista chomskyana a linguagem é vista como dotação genética, uma gramática interiorizada.

Visão funcionalista: comunicação exerce função essencial da linguagem, o que determina o modo como a língua está estruturada (existe variação linguística, pois quem fala, faz escolhas), por isso a análise ocorre para além da sentença (componentes semântico e discursivo, e o contexto em que está inserida=texto e a situação comunicativa). “É neste espaço ampliado de análise que se vão buscar motivações de escolhas que o falante faz em termos estruturais”.  O universo de análise é língua em uso. E o contexto é elemento importante para identificar de que forma realiza suas funções. Por exemplo, uma pergunta pode contribuir na formação da frase com ênfase que não a ordem direta (SVO).

Para finalizar: a linguagem e a língua são objetos complexos, dinâmicos e “vivos”, que admitem muitos olhares diferentes, sem que um necessariamente elimine o outro. Assim, os autores defendem que é necessário abandonar a concepção de linguagem que vincula correção gramatical à forte e arraigadas tradições normativas.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Gerativismo

Minha mãe interpretava o significado das ações a partir de um dicionário diferente daquele utilizado pela maioria de nós e com regras de gramática específicas. As interpretações se tornaram para ela automáticas, não conscientes. Assim como todos entendemos a linguagem falada sem qualquer aplicação consciente de regras de linguística, minha mãe entendia as mensagens do mundo sem qualquer consciência de que suas experiências anteriores tinham moldado suas expectativas para sempre. 

A passagem acima é do livro Subliminar: Como o inconsciente influencia nossas vidas, de Leonard Mlodinow. Ao clicar aqui tem uma resenha sobre o livro, e caso se interesse em depois fazer a leitura do livro, é uma boa pedida.

Quando li esse trecho de Subliminar me acionou na memória a ideia da teoria gerativista, também norte-americana, e que tentava colocar no papel a "gramática internalizada" que temos conosco.

Pode-se dizer que a Gramática Gerativa nasceu em 1957, quando Chomsky lançou seu livro Syntact Structures, inaugurando uma perspectiva mais naturalista dos estudos sobre a linguagem. A Teoria Gerativa é, portanto, uma teoria que se propõe a estudar a linguagem levando em conta as propriedades da mente humana e a relação destas com a organização biológica da espécie.
Com base no pressuposto de que a linguagem é um sistema de conhecimentos inatos, portanto geneticamente determinado, inconsciente e modular, a Teoria Gerativa define seu programa de investigação tentando responder a algumas perguntas, dentre as quais:(1) Como a gramática mental de um indivíduo é representada em sua mente, isto é, o que há na mente de um falante que lhe permite produzir ou compreender sentenças de sua língua?(2) Como o conhecimento da linguagem é adquirido e quais conhecimentos uma criança tem quando do início do processo de aquisição da linguagem?(3) Como um indivíduo põe seu conhecimento lingüístico em uso?(4) Como é que as propriedades relacionadas à linguagem se realizam nos mecanismos do cérebro?



No modelo gerativista:
Seguindo uma tendência Inatista e, por sua vez Racionalista, o modelo gerativista se propõe explicar as manifestações da aquisição de linguagem partindo do principio de que a criança já nasce dotada de ”... uma capacidade inata de aquisição da linguagem”. Nessa abordagem a aquisição de uma língua materna é o resultado direto do amadurecimento dessa criança, ou seja, uma conseqüência de sua capacidade de formular suposições, respostas às questões que lhe surgem e de procurar e encontrar algumas semelhanças presentes na língua a ser adquirida.


O gerativismo que nasce com Noam Chomsky na segunda metade do século XX reabilita o inatismo cartesiano e romântico e propõe uma gramática universal que vise explicar o funcionamento das estruturas linguísticas, da aquisição e a capacidade de uso da língua através do estudo das faculdades mentais. 


Não concordo muito, porque para mim Saussure é ainda muito importante na formação da linguística como ciência, mas segue trecho da Revista Super Interessante que é um complemento sobre Chomsky:

Linguística é o estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas e da história desses idiomas. Quando Chomsky apareceu no cenário intelectual, esse ramo da ciência tinha vivido poucos avanços significativos. Para falar a verdade, dois. O primeiro foi a criação da tradição clássica, originada no mundo grego, que perdurou até o final do século 19. O segundo salto foi o estruturalismo, criado pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913).


O Inatismo, hipótese abordado por Noam Chomsky, defende que o ser humano é provido de uma gramática inata, ou seja, esta já nasce com a pessoa, e vai tomando forma conforme o seu desenvolvimento. E a criança toma como base para seu desenvolvimento a fala dos adultos, que servem de estrutura para o desenvolvimento de suas próprias regras. A partir do momento que a criança incorpora como modelo algumas estruturas da língua mãe, não é porque imitou, mas por que incorporou novos modelos de regras para sua língua.  


No gerativismo, o principal teórico é o linguista Noam Chomsky.

(...)
Usando esse argumento Chomsky faz valer a sua teoria comprovando que a capacidade linguística está inscrita no código genético do ser humano e que a criança necessita apenas de um certo “empurrãozinho” para desenvolver a gramática especifica que é a sua gramática nativa.


Quem é Noam Chomsky?

Noam Chomsky (1928) é professor e ativista político norte-americano. Tornou-se conhecido por suas críticas contra a política externa americana. É professor do Massachusetts Institute of Technology. Desenvolveu uma teoria que revolucionou o estudo da linguística.



Chomsky é considerado o fundador da gramática generativa-transformacional, que a seu entender constitui a base para o desenvolvimento de uma gramática comum a todos os idiomas. Seus estudos fundamentam-se na tese de que todos os seres humanos nascem detentores de um conjunto determinado de conhecimentos do idioma universal, constituindo estes a "estrutura profunda" da língua. 


E já que iniciei com o livro Subliminar, vou fechar o post-registro com ele! Porque essa história de influência do inconsciente nas nossas vidas para mim é muito forte. E a memória é um pouco de tudo isso que nos constitui, tendo ou não uma gramática dentro da gente. Somos um pouco de cada vivência que consciente ou inconscientemente passamos.

Nosso cérebro usa o mesmo truque na memória. Se você tivesse projetando o sistema da memória humana, provavelmente não teria escolhido um processo que descartasse dados a granel e depois, quando precisasse recuperá-los, inventasse as coisas. Mas, para a grande maioria de nós, o método funciona bem na maior parte do tempo. Nossa espécie não teria sobrevivido não fosse isso. Por meio da evolução, a perfeição pode ser abandonada para chegar à aptidão necessária. A lição que isso me ensina é de humildade e gratidão. Humildade porque qualquer confiança que eu possa sentir em relação a alguma memória específica pode estar deslocada; e gratidão pelas memórias que retenho e pela capacidade de não reter todas elas. A memória e a percepção conscientes realizam seus milagres com uma forte dependência do inconsciente. 




domingo, 12 de junho de 2016

Morfologia

Vamos à leitura de mais uma etapa do livro Introdução à Linguística, organizado pelas professoras Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes?

Desta vez será o capítulo que trata de MORFOLOGIA, escrito pela professora Maria Filomena Spatti Sândalo, do Departamento de Linguística da Unicamp.

Objetivo do capítulo é demonstrar as contradições da área (correntes construtivistas e gerativistas) e que o momento atual é de maior acordo sobre o papel da Morfologia na gramática. A Morfologia trata da estrutura interna das palavras.

Mas não se engane, a noção de palavra é controversa dentro da Linguística (construtor X que constrói possuem o mesmo significado, ou da mesma forma que em algumas línguas – Kadiwéu ou Georgiano, por exemplo – parecem frases para nós brasileiros que falamos o português e não estas duas línguas).

Assim, a palavra é a unidade máxima da Morfologia = é uma sequência de sons que pode ser usada como resposta mínima a uma pergunta e em várias posições sintáticas. As unidades mínimas da Morfologia são os elementos que compõem a palavra (e não são os mesmo da Fonologia) – Elementos que carregam significados dentro das palavras são rotulados de morfemas:

NACIONALIZAÇÃO
Nação = pátria
+ al = nacional (adjetivo)
+ izar = nacionalizar (verbo)
+ ção = nacionalização (substantivo)

Para o Estruturalismo, Morfologia é de crucial importância: assim, uma das preocupações da Linguística é de tentar explicar como reconheceremos palavras que nunca ouvimos antes e como podemos criar palavras que nunca foram proferidas antes.  A partir da década de 60, com a teoria gerativa, a Morfologia perdeu espaço. A Sintaxe (formação de sentenças) passa a ser ponto central da gramática. Após novas teorias de que a Sintaxe não pode ficar cega (Anderson, 1982), e  a Morfologia ganha novos espaços.

Teoria da Otimilidade: possui ambicioso objetivo de ser uma teoria da linguagem como um todo (analisar e explicar qualquer fenômeno linguístico por meio de uma mesma instrumentação). Interação entre Fonologia e Morfologia e Morfologia e Sintaxe.

De acordo com o modelo gerativo, otimalista ou não, os mecanismos responsáveis pela linguagem são inatos (não dependem de aspectos culturais). Assim, diante de tanta diversidade existente, o trabalho é demonstrar se existe de fato uma gramática universal -  qual é a natureza dessa gramática universal que permite tamanha diversidade linguística. Com isso, a Morfologia volta a ser o principal campo de investigação da teoria gerativa atual. E passa a haver uma convergência entre o gerativismo atual e o estruturalismo, ao considerar a Morfologia um ponto crucial de investigação.

domingo, 5 de junho de 2016

Linguística: dia a dia e ciência

Comecei a me interessar mais por linguística. Afinal, linguagem passará a dominar uma porcentagem maior dos meus estudos a partir de agora. Mas antes de ir aos clássicos, por que não aproveitar o que o dia a dia nos oferece?

Depois de mais de ano, concluí a leitura de Cinquenta tons de cinza, na verdade vou ler apenas este exemplar da trilogia de E L James (porque me disseram que é o melhor de todos eles – risos!). E cito este livro aqui porque encontrei uma passagem que me interessa para este post:

Prezado Senhor, 
A língua é dinâmica e evolui. Trata-se de uma coisa orgânica. Não está presa em uma torre de marfim com um heliporto no teto e dominando quase toda Seattle, cheia de obras de arte caras penduradas na parede.

Esse trecho do e-mail é uma resposta de Anastasia Steele a Christian Grey quando ele tenta fazer um alerta a ela de que a expressão “esquisitérrimo” não devia ser usada por alguém que quisesse trabalhar em funções do mercado editorial.

Concordo com Ana Steele, língua evolui, é viva! Em outra troca de e-mails entre os dois personagens do livro, ela incluiu ao que chamaram de “linguística descritiva” entre os limites rígidos do possível contrato a ser assinado entre ambos. No caso, se referiam ao “que se danem” não ser uma expressão muito “educada”.

Vendo esses momentos de troca de mensagens no livro lembrei muito dos debates sobre a imposição de uma gramática distanciada do povo que a utiliza e que não reflete a língua falada até mesmo pelos “altos escalões sociais”. Ao preconceito linguístico que vai se formando diariamente entre nós, diante das pessoas que não seguem “corretamente” o que “ensina a escola”. Isso, por si só já daria um artigo científico, uma dissertação ou mesmo uma tese.

E se nos aprofundarmos, veremos que  diferente do senso-comum, a linguística enquanto ciência não irá ditar normas e regras sobre o bom/exemplar (ou o condenável) no uso da língua. A linguística terá como preocupação descrever ou explicar a linguagem verbal (oral ou escrita). Fica aí a reflexão sobre como tentamos utilizar o nome da linguística no dia a dia, buscando nos amparar num conhecimento que nem nós temos!

Voltemos ao meu blog, que tem pretensões muito mais simples. Como disse no início, me interesso em entender a linguística e seus campos de estudos. O que está abaixo é um apanhado de informações de sites e livros, marcações que deixei caso necessitasse de uma ajuda de última hora. Vamos ao resumo da história da linguística:

A linguística, tal como a conhecida atualmente, é filha de Ferdinand de Saussure. Publicado em 1916, a partir de anotações de aulas reunidas e publicadas por dois de seus alunos, o Curso de linguística geral será responsável à linguagem a forma de uma ciência autônoma, independente. Mesmo a linguística estruturalista sendo criticada por diversas tendências, é certa a sua importância e sua referência obrigatória para qualquer teoria linguística atual. 
Para Saussure, língua é um sistema abstrato, um fato social, geral, virtual. A fala, ao contrário, é a realização concreta da língua pelo sujeito falante, sendo circunstancial e variável. A organização interna da língua seria na teoria saussuriana: sistema, mas que posteriormente será denominada estrutura. Uma das formas do estruturalismo é o formalismo, que objetiva considera as funções desempenhadas por elementos linguísticos, sob quaisquer de seus aspectos: fônicos, gramaticais e semânticos. Dentro da linguística existe grande pluralidade teórica, e isso é importante na medida em que dá ao pesquisador a liberdade de escolher seu objeto teórico – e favorece, também, o desenvolvimento da área, pois somente uma teoria não dá conta de trabalhar com todos os fenômenos linguísticos.  Borges Neto  explica que a “linguagem é um objeto de tal complexidade que todas as possibilidades de abordagem serão sempre parciais”. Ao responder às primeiras questões, o que aparecerá no debate serão as concepções iniciais de linguagem, postuladas pelos filósofos anteriores ao século XIX, como Platão e Aristóteles, quando a “linguística” (entre aspas, pois o que existia eram estudos sobre a linguagem e não uma linguística – ciência da linguagem – propriamente dita) era dividida entre as opções nocional e filológica, desenvolvidas com maior profundidade mais à frente. Depois do século XIX, entra em debate o tópico sobre fazer da linguística uma ciência e o que aparece é a opção histórica, com a linguística histórico-comparativa.  A partir desse breve histórico, o artigo segue o caminho das teorias e seus objetos que estão em concorrência na linguística, passando pelo estruturalismo, com Saussure, pelo gerativismo, com Chomsky, e, finalmente, pela sociolinguística, com Labov, de onde se encaminhará o estudo para a questão da mudança linguística através do tempo.Definição de nocional e filológica: a opção nocional, cujos principais representantes eram Platão e Aristóteles, referia-se ao estudo da linguagem a partir da relação entre som e sentido, ignorando qualquer tipo de variação linguística; já a opção filológica, representada principalmente pelos gramáticos alexandrinos, não ignorava a variação linguística, mas a colocava como desvio, configurando-se, desse modo, possivelmente, como a primeira perspectiva normativa/prescritiva na história dos estudos da linguagem. A linguística se constituiu como ciência, no sentido que a modernidade deu ao termo, a partir dos últimos anos do século XVIII, quando William Jones, o juiz inglês que exercia seu ofício na burocracia colonial em Calcutá, entrou em contato com o sânscrito. Impressionado com as semelhanças entre essa língua, o grego e o latim, levantou a hipótese de que semelhanças de tal magnitude não poderiam ser atribuídas ao acaso; era forçoso reconhecer que essas três línguas tinham uma origem comum. As duas abordagens [de Saussure e Chomsky] são radicalmente distintas em certos aspectos; mas têm em comum a característica da abstração do plano sócio-histórico. A construção de uma ciência não se dá de maneira uniforme e regular ao longo da história. Ao contrário disso, constitui um processo ideológico, filosófico, histórico e socialmente constituído, fruto de uma época, e requer, portanto, um período de testagem, para afirmação ou contestação de paradigmas. Trata-se de um processo dialético cujas investigações em torno de uma verdade exigem uma série de idas e vindas, de entraves e reajustes, para se chegar a resultados realmente confiáveis.Por conseguinte, estudar o histórico da Linguística, desde os momentos em que não passava de curiosidade, ao momento em que se torna ciência e até a atualidade, fornece, assim, uma maneira de pensar e refletir sobre a linguagem. Esta, por sua vez, move o homem, visto que em muito contribui nas relações de poder. Não obstante, esta ciência evoluirá muito mais, dissipando os mistérios sobre ela e tornando-se um universo em que a língua e suas particularidades dominam de forma soberana e singular.A linguagem é a capacidade natural que o ser humano tem de se comunicar, seja por meio de palavras, gestos, imagens, sons , cores, expressões, etc. A língua é o conjunto de sinais que determinadas comunidades usam para se comunicar.Compreender o que é a língua é preocupação de todos os tempos e, mais que isso, a necessidade de conhecê-la não é privativa de professores e filósofos. Trata-se de um fenômeno altamente instigante cuja compreensão está ligada ao desenvolvimento de pesquisas em todas as ciências humanas.