domingo, 13 de março de 2016

Linguística Histórica

No post de hoje vamos ao tema Liguística Histórica, conforme capítulo escrito por Nilson Gabas Jr. no livro Introdução à Linguística (Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes – organizadoras).

O professor Nilson Gabas Junior concluiu o doutorado em Linguística na University of California, em 1999. E de acordo com o resumo no Currículo Lattes:

Fez pós-doutorado na Universidade de Antuérpia, Bélgica, em 2002. Atualmente é o diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, Pará. É membro de diversos conselhos e entidades ligadas à sociobiodiversidade, no estado do Pará e no Brasil. Publicou artigos em periódicos especializados e trabalhos em anais de eventos. Possui capítulos de livros e livros publicados, e participou de diversos eventos científicos no exterior e no brasil. Atualmente participa de 4 projetos de pesquisa, sendo que coordena 2 destes. Atua na área de Linguística Indígena, e em suas atividades profissionais interagiu com 14 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Em seu Currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção cientifica, tecnológica e artístico-cultural são: karo, tupi, fonologia, classificação genética, gramatica, ideofones, fonética, léxico, linguística histórica e classificadores.

No livro, Gabas Jr. Inicia mostrando que a Linguística Histórica estuda os processos de mudança das línguas no tempo = Latim, Grego e Sânscrito derivam da extinta língua protoindo-europeia.

O capítulo está dividido em três seções, incluindo o histórico da disciplina (com um panorama de como se desenvolveu esse ramo da Linguística e sua importância), os tipos de mudanças possíveis de ocorrer nas línguas (diversas modalidades de mudanças de som, processos de analogia, mudanças gramaticais e semânticas) e, por último, explica-se a classificação genética entre línguas.

Início da Linguística Histórica e Comparativa: já se notava a semelhança aparente entre línguas distintas. No final do séc. XVIII, Sir Willian Jones (juiz inglês na Índia) propõe que latim, grego e sânscrito eram aparentadas entre si. Também contribuíram no estudo da Linguística Histórica: Rasmus Rask e Karl Verner (Dinamarca), Jacob Grimm (Alemanha). Linguística Histórica se firma como ciência – há rigidez científica nos postulados dos estudos comparativos das línguas indo-europeias.

Lei de Grimm (ou mudanças de som): Rask descobriu e Grimm aperfeiçoou analiticamente. Serviu de base para outros pesquisadores comprovarem mudanças de som em outras línguas do mundo, exemplo de sua observação nas alterações fonéticas: consoantes oclusivas surdas do protoindo-europeu passaram a ser nas línguas germânicas (alemão, inglês, dinamarquês, holandês, etc.) fricativas surdas. As consoantes oclusivas sonoras passaram a oclusivas surdas...

Na evolução desses estudos (pois se descobriu depois que alguns sons na verdade foram emprestados do grego), Karl Verner propõe que uma mudança fonológica teria ocorrido, posteriormente, às mudanças de som propostas por Grimm (Lei de Verner).
Neogramáticos x Difusionistas:

A controvérsia entre os neogramáticos e os defensores da difusão lexical gira em torno de dois pares de termos: som e palavra, de um lado, e gradual e abrupto, de outro. Assim, para os neogramáticos a mudança fonológica é foneticamente gradual, mas lexicamente abrupta; para os “difusionistas”, a mudança fonológica é, ao contrário, foneticamente abrupta, mas lexicamente gradual.

Neogramáticos: Alemanha, grupo (ou escola) da Universidade Leipzip. Eram contra o método vigente na comparação linguística, porque estes se baseavam na língua falada. Apregoavam o princípio da não excepcionalidade das regras de mudança do som e o princípio da analogia. Nortearam os trabalhos em Linguística Comparativa até meados do século XX, quando surge a teoria da difusão lexical.

Difusionistas: Nasce com Wang (1969), em oposição aos neogramáticos. Controvérsia entre eles é resolvida por Labov (1981) = leis da mudança de som não são tão poderosas quanto preconizadas pelos neogramáticos. Em inúmeros casos elas ocorrem lenta e gradualmente, obedecendo à história de cada palavra, de acordo com os preceitos da teoria da difusão lexical.

Mudança linguística: toda língua do mundo está em constante processo de mudança. Falantes não estão necessariamente conscientes dessas mudanças. As mudanças são lentas e graduais. São parciais (envolvem apenas parte do sistema linguístico). Sofrem influência de uma força oposta, a de preservação da intercompreensão. Mudanças podem ocorrer no nível fonético-fonológico (dos sons) até o nível semântico (do significado). Processos de mudança de som são conhecidos como metaplasmos.
Mudança de som: principal mecanismo de mudança linguística;
Provém de variação linguística não distintiva (uso de um ou outro som não implica diferenças de significados, mas de status social e outros); É antieconômico para falantes manterem duas variantes de uma mesma palavra, a tendência é que apenas uma sobreviva; Mudanças podem ser de perda ou adição de fonemas, assimilação, dissimilação, duração (ou prolongamento) e metátese. 

Um dos propósitos da Linguística Histórica é a classificação genética entre línguas e sua reconstrução. A classificação genética é o processo pelo qual línguas distintas são agrupadas em uma dada classe, por semelhanças e ascendências genéticas. O meio mais utilizado para expressar esse relacionamento genético entre línguas é o diagrama em árvore:

Estudos mostram que o grau de profundidade temporal de um tronco linguístico (formado por uma ou mais famílias linguísticas) varia de cinco a seis mil anos, e o de uma família linguística (possui uma ou mais línguas-irmãs) varia de dois a quatro mil anos. Existem ainda as línguas isoladas, não pertencendo a grupos linguísticos (Basco na Espanha e Kaioá ou Kwazá e o Aikanã em Rondônia).

Reconstrução linguística – uma vez determinado o parentesco genético entre duas ou mais línguas, o passo seguinte é o da reconstrução da língua-mãe, com a descrição mais completa possível das mudanças que se sucedem, e que resultaram nos seus descendentes. O trabalho de reconstrução de uma língua somente estará terminado quando, além da reconstrução, também forem cumpridas as etapas de reconstrução morfológica e sintática, para as quais são utilizados procedimentos gerais de análise e levantamento de hipóteses como os observados na reconstrução fonológica.

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