“[...] Os festejos de inverno não acontecerão por falta de cânticos, logo, a lua, que governa as enchentes, pálida de raiva, lava todo o céu; e, por conta da chuva, as doenças reumáticas abundam. E, por causa desse tempo desregrado, vemos as estações se alterarem e a grisalha geada cair sobre o colo ainda morno da rosa carmim. E um velho senhor inverno, ostentando uma coroa fina de gelo, também ostenta uma corrente de botões de flores veranis, os quais perfazem um conjunto cômico. A primavera, o verão, o frutífero outono, o bravo inverno mudam suas roupagens costumeiras, e o mundo, confuso, não sabe dizer qual é uma e qual é outra. E essa mesma proliferação de males nasce de nossas brigas, de nossas desavenças; nós criamos esses males e somos sua origem”
A passagem acima está na página 35 do livro Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare (publicado pela editora Martin Claret/São Paulo, em 2013, com tradução de Marilise Resende Bertin).
Ao ver essa informação me veio à cabeça todas as nossas falas atuais de que o clima está muito alterado. Sim, está. Mas há quanto tempo ele está assim?
O texto foi escrito há mais de 400 anos, antes da revolução industrial, portanto. Antes do homem começar mais ferrenhamente a alterar natureza.
Ainda no prefácio do livro podemos ver que Sonho de uma noite de verão (A Midsummer Night’s Dream) foi escrito entre 1593 e 1594, quando na Inglaterra há registros de vários “sinais de ira de Deus”: “tempestades, pestilência, escassez e mudanças climáticas ocorridas fora das estações do ano”.
Em outro capítulo do livro, que ainda não li, terá segundo o prefácio o seguinte trecho:
“Lembre-se que a primavera (no ano em que a peste começou) foi inclemente, por causa da chuva abundante que caiu; nosso mês de julho está igual ao de fevereiro; nosso junho semelhante ao nosso mês de abril, o que significa que o ar deve estar poluído”.
Eu só posso concordar com a ideia do livro, de que como o “sonho” que pode ser qualquer coisa, assim também nós podemos através do tempo mantemos o discurso de que nada é como antes (no sentido de que o clima está em constante mudança). E nisso, nem mesmo nós continuamos os mesmos!
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