A permeabilização do jornalismo às fontes profissionais leva a que se possa falar crescentemente de um jornalismo de acesso (das fontes aos jornalistas) em detrimento de um jornalismo de cobertura e investigação.
Ana Viale Murtinho
Jorge Pedro Sousa
A frase acima faz parte do livro Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia (organizado por Jorge Duarte). No texto, ao comparar o trabalho de assessoria de imprensa na Europa e no Brasil, se faz ao final uma reflexão sobre os inegáveis benefícios para fontes, jornalistas/jornais e público quando existe uma relação de honestidade, confiança e veracidade. E o quanto as informações terão melhor tratamento nesse meio.
O atual quadro legal, ético e de costumes da assessoria de imprensa e do jornalismo na União Europeia permite manter esperança na independência dos jornalistas e do sistema jornalístico, assegurando ao mesmo tempo a qualidade da informação que circula no espaço público.
O tema me interessou para o debate sobre como as Assessorias de Imprensa podem colaborar com as redações, mas jamais retirar delas o trabalho de edição, apuração e todos os demais que fazem parte do jornalismo. Conforme afirma Alberto Dines no livro O Papel do Jornal: Uma Releitura – em que ele compara a crise no papel-jornal com a crise de conteúdo, em não se desperdiçar espaço editorial com reportagens sem interesse social e melhor apuração:
“O papel do jornal(ismo) é a busca de circunstâncias”. Sejam estes circunstâncias as clássicas, as sugeridas por Rudyard Kipling – fatores de identificação imediata – sejam elas as mais elaboradas como referências, comparações, remissões, inferências e motivações. Sem investigar e expor circunstâncias, não se exercita o jornalismo.
E é o próprio Dines quem questiona o que colocar sobre as laudas.
Papel, papéis: o problema não é onde colocar a informação, dada a carência de matéria-prima para imprimir, mas o que colocar na folha em branco, desafiando a censura e autocensura.
(...)
O único compromisso de jornais e jornalistas é com a informação. Seu empenho nesta tarefa faz, de um jornal qualquer, um jornal livre, logo um grande jornal. Uma nação de grandes jornais é uma grande nação. Sem este valor intrínseco, sem este quilate que advém de um entendimento superior de suas funções, um jornal, por melhor que seja organizado e constituído, será apenas um catálogo de notícias.
Debater o que se publica nos jornais faz parte da minha vida, como cidadão e jornalista. Não é porque sou de assessoria atualmente, que vou defender apenas o uso integral dos textos. Mais que isso, as sugestões das assessorias são para que surjam outras pautas, outros textos. Aí sim meu trabalho terá tido maior significado, a partir dessa “releitura”.
Nos anexos do livro de Dines há uma série de conselhos. Como o tema de hoje foi conteúdo, podemos refletir juntos sobre alguns desses pensamentos da publicação:
- Há situações verossímeis que não são verdadeiras. E vice-versa. A tarefa do jornalista é fazer coincidir ou dissociar os dois termos.
- Se todos estão olhando para o céu, dê uma olhadinha para o chão. Certamente, você encontrará assuntos que os competidores estão descurando.
- Todos os jornais e todos os jornalistas têm acesso às mesmas fontes e aos mesmos fatos. A única coisa que distingue um jornal do outro é a criatividade.
- Comunicação é criatividade. Alguém diz alguma coisa quando tem algo novo a dizer.
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