Terminei hoje a leitura do livro de Carlo Ginzburg, O Queijo e os Vermes (2006, 6ª reimpressão), conforme recomendado pelo professor Artur Moret (Universidade Federal de Rondônia). No final, tive a impressão de ter voltado aos bancos universitários e estar vendo o filme O Nome da Rosa, baseado no romance de Umberto Eco. Na história, os crimes investigados pelo frade franciscano William de Baskerville, com ajuda do noviço Adso de Melk, mostram o que se igreja da época para impedir a livre distribuição de conhecimentos, no caso as obras apócrifas, os livros “proibidos”.
Isso, de alguma maneira, se liga ao poder da imprensa em difundir o conhecimento, conforme podemos observar na fala do estudioso David Gitlitz, que é especialista em História Medieval, no documentário (acima) que faz um resumo sobre a época e sobre o livro de Ginzburg:
E se é necessário continuar a refletira, a recordar para não repetir erros passados, vale lembrar que na mesma época que o Menocchio (Domenico Scandella), o moleiro perseguido pela inquisição, também era condenado o teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano Giordano Bruno (morto na fogueira pela Inquisição romana em 17 de fevereiro de 1600). E, tempos depois, o físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei (queimado vivo em 8 de janeiro de 16422 ), especialmente por defender que era a terra quem girava em torno do sol.
No prefácio à edição inglesa, Carlo Ginzburg traz como análise de número 9:
Antes de voltar ao livro de Ginzburg, no site Palavra da Verdade há a seguinte definição que se torna importante neste momento:
De acordo com o livro, Menocchio teve a ousadia de “afirmar que o mundo tinha origem na putrefação”:
Tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos.
Concordo com o Posfácio escrito por Renato Janine Ribeiro nesta edição: “Menocchio é um herói, ou mártir da palavra”. Ele, um homem simples que leu muito (certo que não sabia escrever muito bem, uma vez que estava inserido ainda numa sociedade ainda com fortes traços de oralidade), e de fato, não só leu, refletiu. Ah, precisamos disso também hoje, ler, ter ideias, discordar, concordar com fundamento, enfim, pensar! Assim, como tenta esclarecer Ginzburg há uma ambiguidade em relação à “cultura popular”, em que ele conclui afirmando que há também “a impressionante convergência entre as posições de um desconhecido moleiro friulano e as de grupos de intelectuais dos mais refinados e conhecedores de seu tempo repropõe com toda força o problema da circularidade da cultura formulado por Bakhtin”.
Segundo enfatizado por Renato Janine, “suas palavras são um protesto, são a recusa desse horror. Sua curiosidade, opiniões e destino fazem dele um desses homens para quem dizer o que pensam é tão importante que, por isso, arriscam a própria vida. Nem toda confissão é uma vitória da tortura; porque às vezes a pior tortura é ter a voz silenciada”. Dessa maneira de Menocchio, que tudo tenta entender e questionar, o escritor afirma:
Para saber mais sobre o autor Carlo Ginzburg e sobre a obra O Queijo e os Vermes, leia o livro ou acesse a resenha de William Cirilo.
Isso, de alguma maneira, se liga ao poder da imprensa em difundir o conhecimento, conforme podemos observar na fala do estudioso David Gitlitz, que é especialista em História Medieval, no documentário (acima) que faz um resumo sobre a época e sobre o livro de Ginzburg:
Era mais fácil para a igreja manter o controle da teologia quando os livros custavam caro demais e os únicos que podiam compra-los eram igrejas e monastérios. Assim que a imprensa tornou o livro de bolso disponível a qualquer um que juntasse algumas moedas, ficou muito mais difícil manter o “Cabresto”.
E se é necessário continuar a refletira, a recordar para não repetir erros passados, vale lembrar que na mesma época que o Menocchio (Domenico Scandella), o moleiro perseguido pela inquisição, também era condenado o teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano Giordano Bruno (morto na fogueira pela Inquisição romana em 17 de fevereiro de 1600). E, tempos depois, o físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei (queimado vivo em 8 de janeiro de 16422 ), especialmente por defender que era a terra quem girava em torno do sol.
No prefácio à edição inglesa, Carlo Ginzburg traz como análise de número 9:
Dois grandes eventos históricos tornaram possível um caso como o de Menocchio: a invenção da imprensa e a Reforma. A imprensa lhe permitiu confrontar os livros com a tradição oral em que havia crescido e lhe forneceu palavras para organizar o amontoado de ideias e fantasias que nele conviviam. A Reforma lhe deu audácia para comunicar o que pensava ao padre do vilarejo, conterrâneos, inquisidores – mesmo não tendo conseguido dizer tudo diante do papa, dos cardeais e dos príncipes, como queria. As rupturas gigantescas determinadas pelo fim do monopólio dos letrados sobre a cultura escrita e do monopólio dos clérigos sobre as questões religiosas haviam criado uma situação nova, potencialmente explosiva.
Antes de voltar ao livro de Ginzburg, no site Palavra da Verdade há a seguinte definição que se torna importante neste momento:
Inquisição - do latim Inquisitio, é um termo que deriva do ato judicial de inquirir, que significa perguntar, averiguar, pesquisar, interrogar. A Inquisição foi uma operação oficial conduzida pela Igreja Católica a fim de apurar e punir pessoas que não comungavam com os princípios ortodoxos da Igreja Católica.
Hereges - pessoas que pensavam, ou agiam, de forma conflitante com o que a Igreja apregoava como verdade.
De acordo com o livro, Menocchio teve a ousadia de “afirmar que o mundo tinha origem na putrefação”:
Tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos.
Concordo com o Posfácio escrito por Renato Janine Ribeiro nesta edição: “Menocchio é um herói, ou mártir da palavra”. Ele, um homem simples que leu muito (certo que não sabia escrever muito bem, uma vez que estava inserido ainda numa sociedade ainda com fortes traços de oralidade), e de fato, não só leu, refletiu. Ah, precisamos disso também hoje, ler, ter ideias, discordar, concordar com fundamento, enfim, pensar! Assim, como tenta esclarecer Ginzburg há uma ambiguidade em relação à “cultura popular”, em que ele conclui afirmando que há também “a impressionante convergência entre as posições de um desconhecido moleiro friulano e as de grupos de intelectuais dos mais refinados e conhecedores de seu tempo repropõe com toda força o problema da circularidade da cultura formulado por Bakhtin”.
Segundo enfatizado por Renato Janine, “suas palavras são um protesto, são a recusa desse horror. Sua curiosidade, opiniões e destino fazem dele um desses homens para quem dizer o que pensam é tão importante que, por isso, arriscam a própria vida. Nem toda confissão é uma vitória da tortura; porque às vezes a pior tortura é ter a voz silenciada”. Dessa maneira de Menocchio, que tudo tenta entender e questionar, o escritor afirma:
O importante não é o que o Menocchio leu ou recebeu – é como leu, é o que fez de suas experiências; o que diminui a distância que se costuma propor entre leitura e escrita, entre uma postura passiva e outra ativa diante do conhecimento.
Para saber mais sobre o autor Carlo Ginzburg e sobre a obra O Queijo e os Vermes, leia o livro ou acesse a resenha de William Cirilo.
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