segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Televisão, como tudo começou...


No Amazon Sat sempre se repete uma gravação do Marcelo Tass falando sobre Mídias Sociais. Nela, o apresentador do CQC cita, entre outros temas, o “esquecimento” de Assis Chateaubriand de que para instalar a TV no Brasil era preciso que as pessoas tivessem aparelhos para ver. Foi preciso comprar duzentos televisores e distribuí-los aos telespectadores. Mesmo assim, houve uma rápida difusão da tecnologia pelo País.

Para saber mais a respeito dessa história do veículo que completou 60 anos agora em 2010, recorri novamente ao texto de Fernando Morais em “Chatô – O Rei do Brasil” (1995, 2ª Edição, Companhia das Letras).


Não havia nem aparelhos e nem experiência entre os profissionais chamados para aquela implantação, cuja data se comemora em 18 de setembro de 1950. Todos eram do rádio e apenas alguns possuíam alguma noção de cinema.

“E tampouco havia de onde copiar um modelo de sucesso, pois naquele ano só três canais de televisão funcionavam no mundo: um na Inglaterra, um na França e um nos Estados Unidos. Por ser o único canal comercial dos três, o norte-americano, da NBC (associada à RCA Victor), era o que mais se aproximava do que se pretendia fazer no Brasil”.

Pasmem: “Como os ensaios eram realizados sem os equipamentos, era impossível saber se aquilo ia ou não dar certo”.

Antes porém da data oficial da inauguração do primeiro canal brasileiro, Chateaubriand realizou a pré-estreia do novo veículo. Com a presença do então presidente Dutra, no dia 05 de julho de 1950 “um monitor foi instalado no amplo salão do edifício (sede dos Diários Associados, em São Paulo) e outro ao ar livre, na esquina das ruas Sete de Abril e Bráulio Gomes, a poucas dezenas de metros de distância”.

Discursos e a apresentação do frade-cantor mexicano José de Guadalupe Mojica fizeram parte da primeira experiência de transmissão em terras tupiniquins, que chegou a quase meia hora de duração. “Na falta de cadeiras para todos, Chateaubriand sugeriu que os convidados se sentassem no chão ‘como índios tupis’, no que foi imediatamente atendido por um dos mais ilustres deles, o milionário norte-americano Nelson Rockefeller, presidente do Museu de Arte Moderna de Nova York.”

Faltando um mês para a primeira transmissão oficial, surpreso por não haver aparelhos no Brasil, o engenheiro da NBC-TV questionou:

“_ Doutor Assis, o senhor está investindo 5 milhões de dólares na TV Tupi, e sabe quantas pessoas vão assistir à sua programação a partir do dia 18? Zero. Sim: zero, ninguém. Além dos que estão expostos em meia dúzia de vitrinas, não há aparelhos instalados na casa de ninguém, em todo o estado.

Chateaubriand disse para ele não esquentar a cabeça com aquilo, que no Brasil tudo tinha solução.”

Foi aí que o empresário solicitou a importação dos duzentos televisores, que entraram clandestinamente no País. Só que, como era muito esperto, Chatô entregou o primeiro para o presidente Dutra (aparelho que ficou só de enfeite até o ano de 51, quando enfim chegaram os primeiros sinais ao Rio de Janeiro).

Realmente no Brasil para tudo se dá um jeitinho. Só para fechar este texto, outra passagem interessante acontece no momento da inauguração, em que quase tudo foi cancelado quando uma das câmeras pifou. Para o representante dos EUA era preciso deixar para outro dia, não fosse por Cassiano Gabus Mendes e Dermival Costa Lima, sob pressão de Chateaubriand, que assumiram a responsabilidade:

“_ O programa vai para o ar com duas câmeras, com uma câmera ou sem câmara nenhuma. A partir desse momento a responsabilidade por tudo o que acontecer é minha e do Cassiano”, falou Dermival. Indignado o representante da NBC anunciou:

“_ O que vocês estão fazendo seria inadmissível nos Estados Unidos. Nenhum câmera, nenhum diretor de TV, ninguém assumiria a responsabilidade de colocar no ar uma estação nessas condições. Eu não tenho mais nada a ver com o que acontecer aqui. Se vocês querem colocar a estação no ar, façam-no por sua conta e risco. Eu vou para o meu hotel, onde há um receptor. Vou assistir à tragédia de camarote.”

O restante da história todos conhecem: a TV virou praticamente febre nacional pouco tempo depois...

Nenhum comentário:

Postar um comentário