"Era totalmente ilegal, no meu ponto de vista", essa é avaliação feita pelo Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), "o mais conhecido diretor e criador da televisão brasileira", assim como a Revista Imprensa (nº260) o apresenta na reportagem "Afiado Bisturi", do mês de setembro.
Ele, que trabalha há 58 anos com TV (dos 60 em que o veículo está no Brasil), explica ainda que "Quando eu entrei, ainda existia o Time Life. O pessoal do Time Life era muito responsável e eles tinham ordem de não passar perto da redação para não contaminar o conteúdo, mas de acordo com a legislação brasileira era um acordo ilegal."
A Globo recebeu nessa negociação a construção do prédio para suas instalações, pois como lembra Boni, o aluguel pago era exorbitante. Porém não deve ter sido somente isso.
Assinado em 1962, segundo a Wikipédia, proporcionou a Roberto Marinho "o acesso a um capital em torno de 6 milhões de dólares, o que lhe garantiu recursos para comprar equipamentos e infraestrutura para a Globo. Em troca, Time-Life teria participação em 30% de todos os lucros auferidos pelo funcionamento da TV Globo. Como comparação, a maior TV brasileira na época, a TV Tupi, tinha sido construída com um capital em torno de US$ 300.000."
A Constituição Brasileira da época "proibia qualquer pessoa ou empresa estrangeira de possuir participação em uma empresa brasileira de comunicação. O acordo foi investigado por uma CPI em 1967", descrevem os usuários da Wiki. Mas que a exemplo de outras Comissões de Inquérito deve ter sido arquivada ou qualquer coisa do tipo...
A vedação estava no artigo 160, que impedia estrangeiros de propriedade ou participação acionária em empresas jornalísticas e de radiodifusão. Fato, que na atual CF/88, mudou de escrita no ano de 2002, veja artigo 222:
"A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 (dez) anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
§ 1º Em qualquer caso, pelo menos 70% (setenta por cento) do capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 (dez) anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação."
Em "Chatô O Rei do Brasil", Feranando Morais falou desse caso em 15 diferentes páginas. A citação vem em uma crescente, mostrando desde reportagens em que a Revista Time "cutucava" Assis Chateaubriand e o seu "império". Bem que o Chatô tentou acabar com a festa global, só de artigos (e olha que ele sempre “caprichava” no palavreado) ele escreveu 50, exclusivamente sobre a dobradinha Globo e Time-Life. Além de dez em que atacava diretamente Roberto Marinho.
Aqui gostaria só de abrir um parêntesis e comentar que foi no meio dessa briga que o famoso jornal "Repórter Esso" (da empresa norte-americana e que era cliente dos Diários Associados em São Paulo) pula para a concorrente Globo.
E foi a partir do ganho de capital proveniente do acordo, do apoio aos militares, entre outros fatos, que as organizações Globo começaram a superar o pioneirismo dos Diários Associados na TV e no poderio nacional. Seja pelas dificuldades de administração que passaram os discípulos de Chatô (que enfrentava graves problemas de saúde e posteriormente sua morte), seja pelas jogadas políticas que se sucediam, o fato é que um império se firmou durante a derrocada do outro.
Esse foi só um capítulo na briga pelo comando da comunicação brasileira, sempre nas mãos de poucos...
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