“O mundo de hoje é marcado por relações amorosas que têm uma origem muito recente. Antes do capitalismo, as pessoas se casavam à força e nunca por amor. O casamento tinha duas funções: manter a linhagem familiar e tocar a vida rural – fazer a roça, construir cercas para os animais, preparar a comida e até fazer as próprias roupas. Com o capitalismo, surge o povo assalariado e o mercado de trabalho. As mulheres saem da roça para trabalhar nas cidades, vão ser operárias, domésticas em casas burguesas e se descobrem como indivíduos. Largam a bolha em que vivem e descobrem duas liberdades: o anonimato – ninguém mais as vigia – e o salário, um pouco de dinheiro que significa a autonomia material. Coloque-se no lugar dessa moça que escapa do olhar da família e do padre da vila: é uma liberdade formidável! Essa mulher passa a recusar a se recusar a ser casada à força. Ele vai querer “se” casar – e com alguém de que ela goste. Surge assim o casamento por amor, e desse casamento vem o amor pelos filhos e depois a sacralização das pessoas. Foi assim que o amor familiar virou um grande traço que nos define hoje em dia”.
Lógico que também concordo com o filósofo na seguinte passagem: “a vida moderna, democrática e livre tem um custo, que é fazer e até mesmo inventar a vida sozinho, arranjar um sentido para a própria vida”.
Não vou discutir aqui sentimentos, mas realmente vejo que a opção de fazer escolhas é uma conquista. Sou mulher e trabalho com jornalismo. Amo tudo isso: fazer parte deste momento da história, aprender todo dia, buscar novas bases/parâmetros e as mil atividades que fazemos diariamente. Só que algumas decisões levam a consequências, a novas experiências, nos mantém ou nos afastam de determinadas atividades, e aí acho que o amor influencia muito.
Acredito que seja por essa diversidade de motivações que dedico meu trabalho à minha família. Mesmo que dela não tenha todas as compreensões, mas como diz o próprio título da matéria publicada pela Revista Super Interessante: “Nunca amamos tanto os nossos filhos”.
Para encerrar, só mais um trecho da análise de Luc Ferry:
“Na história, o sagrado (aquilo pelo qual somos capazes de arriscar nossa vida) mudou muito. Os europeus já morreram por três grandes motivos: Deus, a pátria e a revolução (...) Os jovens ocidentais de hoje não são capazes de morrer nem pela pátria, nem por Deus, nem pela revolução. Acabou. (...) No entanto, os únicos seres pelos quais seríamos capazes de arriscar nossa vida são os outros seres humanos – nossos filhos, nossos amigos ou mesmo pessoas que passam por situações graves de miséria”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário