Terminei de ler hoje o livro “3x30 – Os bastidores da imprensa brasileira” (Editora Best Seller, 1992). Agora revisito algumas páginas que havia deixado com marcação para escrever sobre uma das seções que ocupam geralmente as primeiras páginas de um jornal: o editorial.
“A massa de leitores vai atrás das manchetes, das notícias mais quentes de cada dia. Atiram-se com sede à informação. A elite vai trás das páginas de opinião com a mesma sede”.
Assim Carmo Chagas associou às argumentações da direção de cada empresa jornalística a quem mantém o “poder” na sociedade.
“Para nós, safra nova da profissão, não havia o que discutir. A informação em primeiro lugar. Ponto final. De minha parte, naquela época pensava que a opinião só servia para atrapalhar. Às vezes, cabia a mim baixar a página dos editoriais. Morria de vontade de reescrever aquilo tudo. Mesmo os editoriais assinados por Ruy Mesquita, nosso patrão imediato. Aqueles longos períodos, a enorme distância entre sujeito , verbo e objeto, o estilo tortuoso de expor um ponto de vista, tudo aquilo parecia angustiante para o leitor. Por que tanto meandro, por que tanta cerimônia, em vez de ir direto ao tema?”
O texto se refere a uma época em que Carmo Chagas trabalhava no Jornal da Tarde, Rio de Janeiro, nos anos 60.
“Mas minha resistência aos editoriais não se devia apenas ao trabalho que às vezes me davam. Na verdade, eu nunca lia editoriais. Nem os do Jornal do Brasil, tão reverenciados entre os jornalistas. Eu estava convencido, também, de que pouquíssimos leitores se davam ao trabalho de ler a opinião de seu matutino ou vespertino”.
Será que os editoriais mudaram, será que possuem uma leitura mais “acessível” e será que estamos lendo as opiniões dos veículos que nos trazem notícias todos os dias? Segundo Carmo, os “pouquíssimos leitores” eram os “empresários mais sólidos, os políticos mais perspicazes, os economistas mais atentos”, são eles que “constituem a elite interessada na opinião que apare todo dia na imprensa”.
Para encerrar, num grupo de discussão de jornalistas de Rondônia no Facebook, colocaram a seguinte frase de Dad Squarisi, que acredito ser um pouco do panorama atual em torno do texto de editorial:
“O rádio exige coloquialismo. A tevê, agilidade. A web, síntese. O jornal, tudo isso e algo mais. O editorial pede terno e gravata. Nunca smoking. Reportagens, entrevistas, perfis vão bem de blazer e calça jeans. Nunca de bermuda e camiseta. Colunas, crônicas e blogues podem aparecer de sunga e sandália ou traje de baile”.
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