domingo, 5 de junho de 2011

Nossa língua em estudo

“Escrever é uma luta contínua com a palavra. Um combate que tem algo de aliança secreta”

Julio Cortázar



Esta é a frase que abre o estudo das Figuras de Linguagem do livro "Gramática da Língua Portuguesa para Concursos, Vestibulares, ENEM, colégios técnicos e militares...", de Nilson Teixeira de Almeida. A utilizei porque acredito que no jornalismo realmente precisamos dessa aliança, dessa troca com a escrita.

Em alguns concursos específicos da área de comunicação, ou mesmo como conhecimento básico, o tema figuras de linguagem é cobrado. Afinal, como explica Nilson Teixeira, “são recursos metalingüísticos a que os autores recorrem para tornar a linguagem mais rica e expressiva. Esses recursos revelam a sensibilidade de quem os utiliza, traduzindo particularidades estilísticas do emissor”.

Especialmente quando vamos editar as matérias, fazer títulos ou manchetes, conhecer essas ferramentas contribui com nosso trabalho. Para começar, vamos distinguir conotação e denotação.

“Ocorre conotação quando a palavra é empregada em sentido figurado, associativo, possibilitando várias interpretações”, escreve o autor. Exemplo dado: "Encontrei a chave desse problema".

Já a denotação é “quando a palavra é empregada em sua significação usual, literal, referindo-se a uma realidade concreta ou imaginária”. No caso, quando queremos apenas uma interpretação. Exemplo: "Perdi a chave dessa gaveta".

No Guia do Estudante da Coleção Abril, “Curso Preparatório ENEM 2011”, estudando a matéria Redação encontrei algumas figuras de linguagem, que transcrevo a seguir:

Anáfora: repetição de uma palavra no início de orações. “Podemos importar veículos, podemos fabricar peças, podemos montá-los”.

Antítese: aproximação de termos com sentidos opostos: “Na última campanha eleitoral, coexistiram a verdade e a mentira”.

Elipse: Omissão de um termo identificável pelo contexto. “No posto de votação, só meia dúzia de eleitores” (omissão de havia)

Gradação: apresentação de ideias em progressão. “Suspiravam, choravam, gritavam por um copo d’água”.

Hipérbole: exagero de uma ideia com objetivo de enfatizá-la. “A caixa de correio do cantor explodiu com tantas mensagens”.

Paradoxo: raciocínio que evidencia uma contradição, um aparente contrassenso. “Há os que são verdadeiramente ricos em sua pobreza”.

Paronomásia: aproximação de palavras com sons semelhantes, mais significados distintos. Comumente chamada de trocadilho. “É bom que o Congresso tenha consciência: aprovar o projeto não é provar sua qualidade”.

Prosopopeia: atribuição, a seres inanimados, de predicativos próprios de seres animados. “Copos, talheres e toalha atônitos, sobre a mesa, observavam a tragédia anunciada”.

Agora, voltando ao livro de Nilson Teixeira, vamos completar os exemplos:

Comparação: aproximação entre dois elementos que se identificam. “E se acabou no chão feito um pacote bêbado”.

Metáfora: substituição de um termo por outro a partir de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam. “Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira”.

Catacrese: espécie de metáfora em que se emprega uma palavra no sentido figurado por habito ou esquecimento de sua etimologia. “Os braços do mar”.

Metonímia: uso de um nome por outro em virtude de haver entre eles algum relacionamento. “Vivo do meu trabalho” (a causa pelo efeito)

Antonomásia: designar uma pessoa por uma característica, feito ou fato que a tornou notória. “O Poeta dos escravos” (=Castro Alves)

Sinestesia: cruzamento de palavras que transmitem sensações diferentes (físicas ou psicológicas). “Um doce abraço indicava que o desculpara” (sensação gustativa e tátil, respectivamente)

Eufemismo: utilizado para atenuar um pensamento desagradável ou chocante. “Pôs termo à vida gradativamente” (= suicidou-se)

Perífrase: expressão que designa um ser por meio de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o tornou conhecido. “Visitaremos a cidade maravilhosa” (Rio de Janeiro)

Apóstrofe: interpelação enfática de pessoas ou seres personificados. “Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes”

Ironia: afirma o contrário do que se pensa, geralmente em tom depreciativo e sarcástico. “Vejam os magníficos feitos desses honestíssimos políticos”.

Elipse: omissão de termos facilmente identificáveis pelo contexto. “Estava à toa na vida...” (= eu)

Zeugma: omissão de termos já expressos no texto. “O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano” (meu avô era pernambucano)

Pleonasmo: repetição de uma ideia ou de uma função sintática. Sua finalidade é enfatizar a mensagem. “Choramos um choro sentido”

Assíndeto: supressão de um conectivo entre elementos coordenados. “Todo coberto de medo, juro, minto, afirmo, assino.”

Polissíndeto: ao contrário do item anterior, aqui se repete intencionalmente o conectivo coordenativo (geralmente a conjunção e). “... e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre...”

Anacoluto: expressão que deixa um termo inicial sintaticamente desligado do restante do período. “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.”

Hipérbato: deslocamento dos termos da oração ou das orações do período. “Bendito o que, na Terra, fez o fogo, e o teto.” (= Bendito o que fez o fogo e o teto na Terra)

Hipálage: atribuir a uma palavra uma característica que pertence a outro da mesma frase. “Em cada olho um grito castanho de ódio” (= Em cada olho castanho um grito de ódio)

Silepse: quando a concordância se faz com a ideia subentendida, e não com os termos expressos. “Moro na velha Santos” (ideia subentendida é feminina e palavra expressa é masculina).

Aliteração: os fonemas consonantais se repetem ordenadamente na frase. “O vento vazava zunindo pelos vãos das velhas venezianas”.

Assonância: seqüencia ordenada de fonemas vocálicos ao longo frase. “Sou Ana, da cama, da cana, fulana, bacana...”

Onomatopeia: “Chocalhos tilintariam pelos arredores.”

É certo que não precisamos decorar todos esses nomes, mas conhecer as figuras de linguagem e outros temas referentes à gramática é entender melhor o processo de escrita.

Se quiser outras dicas sobre a língua portuguesa e a comunicação, indico um texto anterior.

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