sábado, 22 de janeiro de 2011

Estudando o modelo "Estado-Igreja"

Em prova de concurso, que posteriormente foi reaplicada pela FCC, para o cargo de jornalista do Ministério do Planejamento (MPOG/2009), uma das questões era a seguinte:

“O método de administração que divide a empresa que faz jornalismo em duas metades, uma editorial e outra comercial, autônomas e separadas entre si, é conhecida como”: igreja-estado.


Lembrei-me dessa questão quando nesta semana iniciei a leitura do livro Releasemania uma contribuição para o estudo do press-release no Brasil, de Gerson Moreira Lima (Summus Editorial, 1985). Mais exatamente, foi no seguinte parágrafo:

“Na Europa, por exemplo, podemos encontrar um sistema de trabalho em que a redação tem certa autonomia – com relação à empresa, podendo opinar na linha editorial do jornal, selecionar os anunciantes etc. Além disso, cada redator ou repórter tem o direito de saber por que sua matéria foi cortada da edição. No Brasil, porém, cada vez mais a redação vem perdendo sua autonomia, em função do crescimento dos interessados econômicos e políticos da empresa, em geral um grande grupo monopolista. Com isso, a autonomia passou às mãos dos tecnocratas, que são fiéis representantes dessa nova política empresarial.”

Revendo o trecho e pensando que o modelo “igreja-estado” representaria que o lucro da empresa jornalística não viria do dinheiro de anunciantes, mas seria construída a partir da credibilidade, vemos que na prática, mesmo passados 25 anos da publicação do texto de Gerson Moreira que o cenário pouco mudou.

Já trabalhei em redação de jornal e sei que dificilmente não será o setor comercial quem muitas vezes comandará até que ponto o jornalista pode apurar/noticiar alguns fatos. Para os patrões, com certeza, a pauta foi uma grande invenção, pois dita o que o repórter deverá trabalhar em cada jornada de trabalho.

Agora no fim do ano, um texto de Eugênio Bucci fala do tema.

“Desde fins do século XIX, as empresas que editam os melhores jornais do mundo começaram a aprender a dividir seus funcionários em duas equipes bem diferentes: uma é a equipe dos jornalistas, que cuidam da área editorial (a "Igreja"); do outro lado, fica a área comercial (o "Estado"). O objetivo sempre foi o mesmo: assegurar um ambiente em que interesses de anunciantes ou financeiros não distorçam as pautas e o enfoque das reportagens. A partir do final do século XX, tudo passou a mudar muito rapidamente. Em algumas redações, o pessoal de marketing ou da publicidade chega a participar da pauta, e ninguém se sente traindo a confiança do leitor. "Igreja" de um lado e "Estado" de outro é coisa do passado?”

Segundo o artigo de Bucci, “Henry Luce (1898-1967), co-fundador da revista Time” conseguiu transformar um padrão organizacional “separar o lado comercial (apelidado de "Estado") e o lado editorial (a "Igreja") na administração de Time Inc.”

Indo mais a fundo, o que se fala é que o leitor será o patrão do jornalista.

Confira na íntegra o texto de Bucci no site Observatório da Imprensa.

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