Em outras das minhas postagens disse não acreditar na neutralidade do que a imprensa divulga. Volto ao tema porque encontrei na lição de Platão e Fiorin (Para entender o texto) a noção de viés.
“Todo relato, já na escolha dos fatos relatados, já nos pormenores omitidos ou enfatizados, intencionalmente ou não, traz o viés do julgamento do produtor do texto, que pode influenciar a opinião do leitor desatento”.
“Sabemos que nenhum texto é um evento isolado. Ele se insere num momento histórico e é marcado pelas condições desse momento. As condições de produção textual imprimem nele suas marcas.”
Mas, então, por que não há neutralidade? Porque a simples seleção de fatos, de enquadramentos, de formatos, entre outros, é uma escolha e como tal está rodeada de subjetividades.
“Mesmo relatando dados objetivos, o produtor do texto pode ser tendencioso e ele, mesmo sem estar mentindo, insinua seu julgamento pessoal pela seleção dos fatos que está reproduzindo ou pelo destaque maior que confere a certos pormenores. A essa escolha dos fatos e à ênfase atribuída a certos tipos de pormenores dá-se o nome de viés”.
Eleições 2012 - Estamos novamente em período eleitoral, portanto, esta passagem dos autores é interessante para acompanharmos o trabalho da imprensa e sabermos se utilizam a prática do viés:
“Se o jornalista põe em destaque que um certo candidato não acredita em Deus; liberaria o uso da maconha se eleito; gastou boa parte do seu tempo em pesquisas teóricas e teve pouco contato com a prática, isso tudo pode ser verdade e concorre para desmerecer o candidato diante da maioria dos eleitores”.
“Se, por outro lado, o jornalista revelasse que esse mesmo candidato mantém ótimas relações com os religiosos e os respeita profundamente; é contrário ao uso das drogas, mas acha que não é pela proibição legal que devemos combatê-las; lecionou em universidade de renome internacional e desenvolveu pesquisas no campo da sociologia, da economia e da política, isso também é verdade e apresenta o contraponto do relato anterior.”
Ainda segundo os autores, “o relato manipulado pelo escritor pode levar o leitor a tirar deduções positivas ou negativas sobre o que leu”. Diante dessas possibilidades, eles afirmam que
“Essa verificação destrói a ilusão da imparcialidade: sempre que relatamos algo, nosso julgamento está distorcendo ou enviesando a realidade. Até os jornais que alardeiam imparcialidade, isenção ou neutralidade não conseguem atingir totalmente suas intenções, já que, mesmo sendo verdadeiros, interferem na mensagem de algum modo. É possível, com cuidado e reta intenção, conseguir uma boa dose de imparcialidade, tentando reproduzir tanto os dados favoráveis quanto os desfavoráveis de uma realidade qualquer. Mesmo nesse caso, nunca podemos assegurar a total neutralidade.”
PROPOSTA DE REDAÇÃO
“Suponha que você tenha sido solicitado a fazer uma reportagem de um banquete oferecido pelo prefeito da cidade às personalidades locais.
a) Sem se declarar abertamente contrário a tudo o que você presenciou, procure relatar pormenores que sirvam para ridicularizar a figura do prefeito e de seus convidados.
b) Ainda sem se dizer abertamente entusiasmado com o que presenciou, selecione pormenores que sirvam para enaltecer a figura do prefeito e de seus convidados.
Rosália. Gostaria de entrar em contato com você. Possuo algumas dúvidas. Meu e-mail é: paulo-henrique84@uol.com.br.
ResponderExcluirSeu trabalho é excelente!