quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um registro da história

O jornalismo é um meio para o registro da história (dos mais diversos tipos de história quero dizer). Fiquei pensando isso depois que li o seguinte trecho do livro “3x30 – Os bastidores da imprensa brasileira” (Editora Best Seller, 1992), na narração de Carmo Chagas:

“A Galeria Metrópole de nossas madrugadas serviu de palco, num começo de tarde, para a caça a uma moça de minissaia e um rapaz cabeludo. O noticiário internacional trazia essas novidades comportamentais que para nós, mesmo na cosmopolita São Paulo, ainda pareciam extravagâncias d’além mar.”

O jornalista está falando de uma passagem lá dos anos 60, em que o escândalo era usar cabelos compridos (homens) e minissaia (mulheres). E, pasmem: “houve um começo de tarde em que uma mocinha apareceu de minissaia ali na Praça Dom José Gaspar” (...) “Os olhares de admiração e espanto logo foram seguidos por expressões de desaprovação dos mais velhos, misturados ao inevitável deboche dos office-boys em trânsito pela região. Em poucos minutos, uma chusma seguia a mocinha e das piadas e imprecações logo passaram a querer alisar, pegar, agarrar”.

Resumo da história, no mesmo momento passou também o homem de cabelos mais volumosos que o costume da época: “De fato, não deu outra: boa parte dos perseguidores da moça preferiu ir atrás do cabeludo”. Ambos se esconderam e só conseguiram se livrar da confusão quando apareceu a polícia.

Enfim, o jornalismo serve para acompanhar as mudanças de comportamento e as mais diversas histórias. E hoje foi um dia assim, porque ainda está muito acesa a discussão sobre o BBB (Big Brother Brasil) e o possível “estupro” ou “sexo” na telinha. (Eu prefiro que essa moda não pegue como no fim se convencionou que é normal homens utilizarem cabelos compridos ou mulheres usarem roupas mais ousadas).

Estava discutindo isso, o quanto utilizar uma saia mais curta ou uma roupa mais sensual dá direitos para que se ultrapassem limites, quando o jornalista Nilson Lage jogou no Twitter (@nilsonlage) a seguinte questão:

“Será machismo achar que a moça que, aos 23 anos, se embriaga, enfia-se nas cobertas esfregando-se em um jovem bêbado é vítima na história?”

Não entrarei em discussões sociológicas, mas espero que realmente o Ministério da Comunicação reveja não só o BBB, mas outros programas que não contribuem com a formação nossa, povo brasileiro. Para mim, estamos aqui para registrar a história, e não sermos eternizados como deturpadores de mentes.

Prefiro que o jornalismo e os meios de comunicação sejam utilizados para atividades que façam-nos crescer como pessoas. Da mesma forma que canta Mercedes Sosa “Que no calle el cantor porque el silencio cobarde apaña la maldad que oprime”.

Jornalistas, uni-vos para que possamos cumprir uma finalidade social maior!

Um comentário:

  1. E, para quem não viu, recomendo a abertura do Jornal do SBT, com Carlos Nascimento, falando desses assuntos supérfluos que movimentam o jornalismo, especialmente os desta semana: http://youtu.be/j_CUqLslASQ

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