sábado, 12 de fevereiro de 2011

TV & Guerra

Veja esta questão do Ministério Público Estadual de Rondônia, aplicada pela Cesgranrio em 1995:

A presença do sistema televisivo na sociedade gerou a expressão “primeira guerra televisual”. Essa expressão teve origem na cobertura televisiva da guerra da(o):
(A) Bósnia
(B) Coreia
(C) Vietnã
(D) Golfo
(E) Laos


Acertou quem marcou a opção C. Buscando explicação para a pergunta, encontrei o trabalho da aluna Paula Jung Rocha (PUC/RS). No trabalho ela cita McLuhan:



“Na obra War and peace in the global village (apud McLUHAN, 1964), McLuhan descreve o efeito da transmissão de imagens da guerra do Vietnã, considerada a primeira guerra televisual. O evento militar torna-se um acontecimento/espetáculo. Os cidadãos se transformam em plateia.”

A tese continua fazendo outras conexões entre guerra e televisão:

“Na década de 90, com o episódio da Guerra do Golfo, constata-se similar situação. A rede de TV norte-americana CNN transmite, ao vivo, os ataques dos Estados Unidos ao Oriente Médio, para milhões de telespectadores ao redor do mundo. A diferença, dessa vez, são os recursos de edição: apenas as “melhores” partes da guerra são transmitidas. A guerra editada abre caminho, mais tarde, para a guerra do Iraque, a primeira ‘guerra blogueada’.”

Se a Guerra do Vietnã foi a primeira guerra televisal, muita relação terá com a primeira guerra transmitida ao vivo pela televisão para o mundo todo: Guerra do Golfo. Tema que fez parte da entrevista feita com Gunther Rudzit, coordenador do curso de relações internacionais da FAAP, feita pela Revista Imprensa, de fevereiro de 2011 (nº 264).

No site Brasil Escola, explica que a disputa no Golfo Pérsico foi um conflito que teve início em agosto de 1990, entre o Iraque e o Kuwait. Mas que também envolveu os Estados Unidos e alguns países do Oriente Médio. “O objetivo do Iraque era anexar seu vizinho Kuwait ao seu território como uma província, de forma a controlar o petróleo kuwaitiano. Com isso em 1990, começaram os ataques da imprensa de Bagdá contra o pequeno país.”

Segundo Rudzit, “os correspondentes ficavam à mercê dos filtros impostos pelas Forças Armadas estadunidenses”, e essa maquiagem feita pelos EUA se deu justamente porque “na visão dos militares, a cobertura livre que os jornalistas fizeram no Vietnã minou o apoio da população. Em 1991, as informações foram ‘instantâneas’, mas filtradas pelas Forças Armadas. É bom fazermos essa ressalva porque a guerra foi tratada como estéril e sem vítimas, e de precisão, quase como se não houvesse mortos”.

A Wikipédia traz informações de que esse foi possivelmente um dos maiores massacres da história do Médio Oriente. Mais de 100 mil soldados iraquianos foram mortos contra cerca de mil baixas das forças da coalizão. A guerra foi encerrada no dia 28 de fevereiro, quando o presidente norte americano, George Bush, declarou o cessar-fogo.



Para o professor Sérgio Mattos, em “Censura de Guerra - Da Criméia ao Golfo Pérsico”,

A síndrome do Vietnã afetou a todos. Qualquer comandante de esquadrão, se entrevistado, não hesitaria em dizer que a TV foi a culpada pela derrota no Vietnã. Na verdade não foi a CBS quem perdeu a ofensiva de Tet; foram os vietcongues que ganharam a guerra. Desta forma, como a guerra do Vietnã foi a guerra mais televisionada do mundo, transmitindo cenas sem qualquer censura, tanto os civis como muitos militares passaram a pensar, como uma verdade absoluta, que qualquer outra guerra que viesse a ser televisionada também seria perdida.

O primeiro conflito armado de proporções que testou as intenções militares em relação à televisão, ao sigilo, à censura e à imprensa, foi a Guerra das Malvinas. Quando o navio Sheffield, considerado como uma fortaleza, foi atingido por um míssil Exocet, a imprensa só teve acesso ao primeiro revés da guerra para os ingleses, três dias depois. Quando a imprensa retornou da visita ao navio, as fitas gravadas e os filmes fotográficos foram confiscados e os despachos jornalísticos submetidos à censura. O material só foi liberado um mês depois.

Após inúmeras negociações com os censores, equipes de filmagem da BBC puderam participar da invasão de Porto Stanley, mas as imagens só foram liberadas, na Inglaterra, várias semanas depois.


Sobre a Guerra do Golfo, Sérgio Mattos escreve:

“Logo após o início da guerra, os assessores de Bush começaram a trabalhar na campanha presidencial para 92, impulsionados pelos resultados das pesquisas do Gallup, apontando que 87% dos americanos estavam apoiando as atitudes do presidente. A Guerra do Golfo também foi ótima para o presidente da França, François Mitterrand, que, segundo o jornal Fígaro, melhorou sua popularidade. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Sofres registrou que 65% da população apoiava as atitudes do presidente francês.

Se a guerra e o seu resultado final foram bons para Bush o mesmo não se pode dizer em relação à imprensa. Isto porque a primeira vítima da Guerra do Golfo foi a imprensa que, submetida a uma radical censura, dos dois lados, foi manipulada para exercer as funções de relações-públicas, tanto das forças coligadas como das de Saddam Hussein.”

(...)

Os jornais brasileiros denunciaram o sistema de censura militar implantado na Guerra do Golfo. Segundo A Folha, "os informes militares divulgados pelos 28 países que integram a frente antiiraque, bem como os noticiários emitidos pelo Iraque e por Israel, estão sendo submetidos à censura pelos respectivos governos ou comandos militares. Os jornalistas e enviados especiais só podem fazer a cobertura em sistema de "pool" (grupos previamente selecionados) submetidos à orientação militar".

(...)

A Guerra do Golfo é muito recente e os dados sobre a mesma foram acompanhados através da televisão e jornais. Muitos não sabiam que o que viam ou liam era fruto da censura, pois poucos foram os jornais e as emissoras de televisão que tiveram o cuidado de informar às suas respectivas audiências que o que estavam assistindo ou lendo e ouvindo era apenas a versão dos militares, de ambos os lados e que não representavam, necessariamente, a verdade.

2 comentários:

  1. No livro história das teorias da comunicação (Mattelart & Mattelart) também e dada essa informação (de que a Guerra do Vietnã foi a primeira guerra televisual).

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    1. Obrigada Mônica, pelo comentário. Eu estou com vários livros tentando me animar a voltar a estudar com mais afinco a comunicação. Inclusive esse de teorias. Lendo sua dica, é mais um incentivo para voltar às minhas leituras!! Abraços.

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