Estou lendo o livro de Platão & Fiorin “Para entender o texto – leitura e redação” (Editora
Ática - 2006) e me chamou muito o capítulo inicial que faz
considerações sobre a arte de ler e escrever. Acredito que tenha
muito a relacionar-se com a profissão do jornalista, contribuindo com
uma melhor leitura de mundo para nós e, quiça, para quem nos
acompanha.
Para os autores, “o significado das
partes depende das correlações que elas mantêm entre si”, isto
quer dizer que “para entender qualquer passagem de um texto, é
necessário confrontá-la com as demais partes que o compõem sob
pena de dar-lhe um significado oposto ao que ela de fato tem”.
Portanto, que fique claro:
“Para fazer uma boa leitura, deve-se
sempre levar em conta o contexto em que está inserida a passagem a
ser lida. Entende-se por contexto uma unidade linguística menor.
Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o parágrafo
encaixa-se no contexto do capítulo, o capítulo encaixa-se no
contexto da obra toda”.
Para o jornalismo, os autores trazem
esta matéria como exemplo:
CRIME
TIRO CERTEIRO
Estado americano limita porte de armas
No começo de 1981, um jovem de 25 anos
chamado John Hinckley Jr. entrou numa loja de armas de Dallas, no
Texas, preencheu um formulário do governo com endereço falso e,
poucos minutos depois, saiu com um Saturday Night Special – nome
criado na década de 60 para chamar um tipo de revólver pequeno,
barato e de baixa qualidade. Foi com essa arma que Hinckley, no dia
30 de março daquele ano, acertou uma bala no pulmão do presidente
Ronald Reagan e outra na cabeça de seu porta-voz, James Brady.
Reagan recuperou-se totalmente, mas Brady desde então está preso a
uma cadeira de rodas. (…)
Sobre este texto eles afirmam que
“seguramente, por trás da notícia, existe, como pressuposto, um
pronunciamento contra o risco de vender arma para qualquer pessoa,
indiscriminadamente. Para provar essa costatação, basta pensar que
os fabricantes de revólveres, se pudessem, não permitiriam a
veiculação dessa notícia. O exemplo escolhido deixa claro que
qualquer texto, por mais objetivo e neutro que pareça, manifesta
sempre um posicionamento frente a uma questão qualquer posta em
debate.”
Fica a dica, busque o contexto do que
se lê. Mais que isso, busque o porquê de algumas matérias
veiculadas pela mídia (matérias estas que nós jornalistas estamos
contribuindo para sua divulgação). Eis aqui na prática o que digo:
Clique para ler: O jornalismo cego às armadilhas do discurso oficial – Observatório da Imprensa.
Precisamos saber usar melhor as armas que temos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário