quinta-feira, 28 de maio de 2015

O verbo e o texto

“Verbo é a palavra que exprime ação, fenômeno natural, estado ou mudança de estado, situando esses fatos num determinado tempo”. 

Ao estudar classes de palavras, mais especificamente verbos na gramática de Nilson Teixeira de Almeida, encontrei desde a estrutura (radical e vogal temática, tema, desinências modo-temporais e número-pessoais...) a flexões (número, pessoa, modo e tempo) e classificações dos verbos (regulares, irregulares, anômalos, defectivos e abundantes), entre outros. Lógico, para compreender toda essa divisão é preciso muito estudo, e meu objetivo aqui é outro. Pretendo compreender a semântica dos verbos. Vamos ao que ensina Nilson Teixeira no item flexão dos verbos:

Número – o sujeito deve variar de acordo com o sujeito a que se refere:
Ex.: A criança brinca só. / Os amigos brincam na rua.

Pessoa – Indica as três pessoas do circuito da comunicação (emissor, receptor ou referente):
Ex.: Viajo hoje (eu) / Não voltei mais (tu) ? Mudou para Paraíba (ele)

Modo – Indicativo (exprime um fato certo, concreto e positivo); subjuntivo (exprime um fato hipotético ou optativo); imperativo (exprime ordem, pedido, súplica).

Tempo – presente (indica fato que se processa no momento atual); pretérito perfeito (indica um fato totalmente concluído no passado); pretérito mais-que-perfeito (concluído antes de outro também no passado); pretérito imperfeito (expressa um fato interrompido ou continuado no passado); futuro do presente (indica um fato vindouro em relação ao presente); e futuro do pretérito (exprime um fato posterior a um acontecimento já passado).

Assim explicado fica frio, parecendo muito técnico. Agora, se juntarmos às explicações do Guia do Estudante 2013 (Editora Abril), Edição Português, teremos novas formas de ver os verbos no texto jornalístico. Imagine a seguinte manchete:

Roseli Fishmann: Ensino Religioso na rede pública fere a constituição

Ao conjugar o verbo ferir no presente do indicativo, situa-se a atenção do leitor. “Em textos jornalísticos, usa-se o presente histórico para fazer referência a fatos ocorridos no passado, a fim de atualizar o problema e trazê-lo para o presente”, ensina o Guia.

Fui buscar informação sobre o presente histórico na internet e descobri a seguinte explicação no site Cyber Dúvidas: “O uso do presente do indicativo para descrever fatos ocorridos no passado é o chamado presente histórico ou narrativo. Trata-se de um recurso utilizado para dar mais vivacidade ao texto e realçar os acontecimentos que estão sendo descritos”.

O que muito se parece com a explicação do professor Luiz Gonzaga Motta sobre “Jornalismo, narrativa e história do presente” na página jornal Diário do Nordeste:

Os homens são contadores natos de histórias porque a narrativa é a forma natural de representar o tempo e o mundo. Ela traduz o conhecimento em relatos. Construímos o mundo em narrativas empalavrando continuamente a realidade. Por isso, as narrativas dotam o contexto social de significados e estabelecem consensos provisórios que fazemos e refazemos continuamente. Por exemplo, demarcando o tempo cronológico, as narrativas históricas e jornalísticas criam pontos superpostos de partida e chegada, nos situam e conectam ao mundo físico e social.

Imagine agora dentro do texto noticiado, contendo um trecho de lei: “(...) o ensino religioso, católico ou de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas (...)”.

No caso, o uso presente do indicativo (verbo constituir) é novamente empregado, “neste caso, como uma verdade absoluta”, assevera o Guia do Estudante.

Para encerrar, vamos à semântica dos tempos verbais, conforme ensinou o Guia em 2013.

Os verbos podem ser empregados em determinados tempos cujos significados nem sempre correspondem aos indicados pela nomenclatura oficial. É comum usar o verbo no presente do indicativo (por exemplo, ele fala) para referir-se a um evento futuro próximo (ele fala com você amanhã, pode ser?) ou até no passado remoto (naquela passagem, Platão fala que...). 

Também é interessante os demais exemplos trazidos pelo Guia do Estudante:


Presente do Indicativo: além do momento pontual (ex.: Robinho dribla, chuta, é gooooool!), ele também pode expressar:
Hábito – Costuma se repetir periodicamente em determinado momento. Estende-se de um passado a um futuro não marcado: Tomo banho diariamente.
Sentido durativo - Começou antes do momento da construção da frase e parece perdurar: Moro em Santo André.
Presente histórico -  Expressa a intenção de dar mais destaque a fato já concluído. É comum no texto jornalístico: Israel rejeita pressão dos EUA.
Futuro próximo – Exprime o desejo de que o fato futuro ocorra em breve: Sábado vamos ao Guarujá. 



Muito bom, vale a pena tentar entender (estou tentando daqui!).

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